quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Noite de Fados Ajudar Uma Família


Boa noite a todos!

É de coração cheio e a bater rápido que digo BOA NOITE  a todos!

Talvez com uma lágrima escondida no canto do olho e a fazer um esforço enorne para não me comover, mas a verdade é que estou muito comovida e sensibilizada por estarem todos aqui hoje!

Obrigado! Muito obrigado por hoje estarem a dar ao Ajudar Uma Família, aquilo que ninguém pode comprar, o VOSSO TEMPO!

O Ajudar uma Família começou por ser um Evento no Facebook em que inicialmente sugeri aos meus amigos que neste natal nos jantares de natal não trocássemos os presentes do amigo secreto e com dinheiro dos presentes ajudarmos uma família! Tirávamos uma fotografia de grupo e quando fossemos entregar, não o dinheiro, mas o que fizesse falta, entregávamos a fotografia de quem ofereceu.

Rapidamente os amigos aderiram, pessoas que não conhecia aderiram, a Isabel Lopo de Carvalho deu-me o contacto da Francisca Pedroso que trabalha de perto com muitas famílias do Bairro da Serafina, em Shoenstat a irmã Rosana deu-me o contacto com assistentes socias de Camarate.  O Bernado Villar criou a imagem que nos define hoje e Desde ai, e Graças a Deus não parámos de Ajudar Famílias!

Numa semana entregámos dois beliches com colchões e edredões  conseguidos euro a euro! O que é que nos diferencia? Quem ajuda com 1euros, 5euros, 100 euros, o que for, recebe sempre as fotografias da entrega daquilo que se comprou com o seu contributo, o recibo e uma pequena descrição da família e da entrega! :)

Ao mesmo tempo publicamos na nossa página do Facebook as fotografias e tem sido espectacular ver que as pessoas ao olharem, ao conhecerem as famílias através de várias imagens começam a querer ajudar, começam a oferecer roupa, bilhetes para o cinema, brinquedos, livros etc. Tem sido um dos meses mais bonitos da minha vida!

Desde os meus 5 anos que a minha irmã e eu ficámos sem pais. Uma morte nada agradável mas que fez com que fossemos viver com os meus avós para um quinta perto de Coimbra, a Graciosa. Tivemos uma vida óptima, uma educação espectacular, muitos mimos, acabámos por ganhar uns pais extraordinários e o carinho especial de uma família tão grande como a nossa. Hoje tudo o que sou devo-o aos meus avós, aos meus tios, aos meus primos que desde a altura em que era pequenina foram preenchendo o meu coração, cada um à sua maneira.

Graças a Deus somos uma família que não passa dificuldades mas não é por isso que não dou valor àquilo que tenho e não tenho. Não preciso de deixar de ter uma refeição na mesa para lhe dar valor. Sempre fui educada a dizer "tenho vontade de comer alguma coisa" do que "tenho fome", porque como a minha avó Zé dizia "Graças a Deus nunca passou fome e nem sonha o que isso é!". Fui educada a evitar o "não gosto" e a ficar na mesa o tempo que fosse preciso até acabar! Acreditem que não foi fácil, era sempre a carroça do lixo, como chamávamos lá em casa ao mais lento a almoçar ou jantar.

Sempre odiei comer e durante muito tempo andei a esconder pela casa ( que é bastante grande) todos os pães que tinha de lanchar. Nem com a casa e o seu tamanho enorme me safei, fui apanhada uma série de vezes e castigada também. Até que um dia prometi à minha avó que não o fazia mais e realmente não o fiz! Mas os pães escondidos já tinham sido tantos que um dia lá encontrou um pela casa...achou que a promessa tinha sido quebrada e que eu continuava sem dar valor ao que tantos nem sonham que existe.
Quando cheguei a casa tinha uma papa de pão com bolor e leita para lanchar! Foi comida até ao fim! Na altura chorei, roguei pragas à minha avó e devo-a ter ofendido em pensamentos... hoje percebo o desespero em que devia estar em relação ao problema Ticas e os Pães!
Agradeço-lhe imenso hoje, realmente não somos ninguém para despediçar aquilo que outros não têm!

Não quero que fiquem a pensar que a minha avó é tudo aquilo que enquanto comia a super papa de bolor fui pensando, a minha avó Zé e o Avõ Fernando sao de certeza os causadores do meu lado solidário, a origem do Ajudar Uma Família!

Desde pequena que os vejo a serem solidários, a fazerem de uma quinta uma aldeia, onde viviam caseiros, ciganos e quem precisasse. Sempre os vi a adoptarem na família como seus aqueles que mais precisavam, sempre os vi a darem o seu tempo e companhia a outros que estão sozinhos! Lembro-me que durante muitos anos no verão em São Martinho, havia um dia em que 5 ou 6 rapazes da Casa do Gaiato iam almoçar a nossa casa, na altura não percebia muito ben o porquê mas achava giro!
Os dois sempre foram muito generosos e nunca se fizeram valer do facto de serem Marquezes para se vanglorizarem ou gabarem, pelo contrário.

Um dia em Monsanto quando estava com o Manuel a descer passámos pela rua com o nome do meu avô. Estávamos a tirar uma fotografia quando do nada, uma senhora veio ter connosco e sem saber que eu era neta, a chorar diz-nos " O Senhor Marquêz não devia ter o nome numa rua, devia ter uma estátua por tudo o que fez por tantos aqui! O meu marido e eu ficámos sem nada e o Senhor Marquês vendeu-nos um terreno em troca do nosso trabalho na Quinta do Valongo. Sempre que o meu marido lá ia a casa era recebido com um pão e chouriçõ e o Senhor Marquêz só começava a falar de trabalho depois dele ter comido! Graças a ele conseguimos seguir a nossa vida!"

Isto marcou-me, deixou-me orgulhosa e ainda mais pois quando contei ao meu avô, ele na sua humildade, sentido de humor e a querer fugir ao assunto, respondeu "Era gira? Hummm Ela quer é conhecer-me!" e riu-se.

Gostava de um dia conseguir ajudar tantos desta maneira humilde, gostava de um dia com o pouco que tenho conseguir ajudar e melhorar a vida de tantos, continuar esta obra de vida que os dois me transmitiram e deixaram!

Realmente acho que com o nosso pouco conseguimos imenso para quem tem tão pouco, com um simples gesto fazemos de uma tarde normal, Natal em tantas famílias!

É bom ir a guiar no carro e chorar de alegria e euforia cada vez que recebo uma mensagem a dizer "quero doar", "quero ajudar", "tenho roupas" etc., ainda somos muitos a querer ajudar, ainda somos muitos a acreditar, a confiar, a agir! Quando queremos alguma coisa não há crise que nos derrube e conseguimos todos juntos coisas espectaculares!

Este mês tem sido um dos melhores da minha vida graças a todos vocês que contribuíram para que , já algumas famílias tenham recebido bastantes mimos. Venham, experimentem vir entregar, convido todos a virem dar um sorriso a estas famílias, a ver a alegria e entusiasmo com que somos recebidos em cada casa! As saudades com que ficam depois de sairem, a vontade de lá voltar para dar mais um mimo, para oferecer outra coisa, para levar lanternas e luz, para ver que realmente aquilo que já tinhamos entregue antes está agora a dar frutos!

Tem sido único, inesperado e principalmente muito muito bonito!

Quero hoje agradecer a todos os fadistas que prontamente ofereceram a voz para Ajudar Uma Fanília, aos guitarristas que os acompanham. À Joca Metalomecânica que ofereceu os vinhos, ao Sector Mais que ofereceu os refrigerantes e cerveja, ao Gente Divertida Catering que ofereceu as sobremesas e ao Aerlis café que ofereceu os cafés.
Ao Pedro Ferreira de Carvalho a quem sugeri uns fadinhos e tornou esta noite possível!MUITO OBRIGADO!

Obrigado a todos os que tornaram esta noite possível, não só os que estão vivos e entre nós mas também aqueles que me acompanham sempre estejam onde estiverem.

Obrigado por fazerem de mim e de tantas famílias mais felizes, acreditem que estão nos nossos corações!

E como o fado diz "É tão bom ser pequenino, ter pai ter mãe ter avós, ter esperança no destino e ter quem goste de nós!

BORA TER ESPERANÇA NO DESTINO E AJUDAR UMA FAMÍLIA! venham os fados!

Ticas Graciosa 14-12-2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um ano de descobertas, a mais extraordinária de todas...o Amor!


Querida avó Zé do meu coração:

Aqui estou eu mais uma vez a escrever no papel o que me vai no coração… e mais uma vez sobre o que o meu coração bate por si.

Já passou um ano desde a última vez que a vi, que estivemos juntas no hospital e talvez já a avó sentisse e soubesse que dali não sairia mas nem por isso a vi desistir ou a dar parte fraca, pelo contrário! Ali estava, contente por nos ver, contente por receber as cartas que o avô lhe mandava por nós, óptima de cabeça e muito mimada por todos.
Sussurro-lhe hoje aqui, que muitas vezes dou por mim a chorar e é um misto de tristeza e raiva de mim mesma, por não ter estado lá quando a avó foi ter com os meus pais, com o tio Francisco, com os seus pais, irmãs e amigos. Muitas vezes dou comigo a sofrer por não saber se teve uma mão amiga ali consigo a confortá-la e que eu gostava de ter dado essa mão…senti muitas vezes neste ano esta aflição no meu coração! Hoje acredito que a avó nos deixou na melhor companhia, acredito que todos aqueles com quem está agora estavam consigo e acredito principalmente que Nossa Senhora nunca a deixaria e lhe esteve a dar a mão como sempre nos deu nas nossas vidas.
Desde pequena que sentia e dizia que tinha três mães, a minha mãe João, a avó Zé que me criou e Nossa Senhora que me as pôs no caminho e foi zelando por todas. Tenho as minhas mães juntas no céu a olharem por mim e pela Sofia e acredito que tanto a mãe João como Nossa Senhora lhe estão gratas, como eu estou, pela sua enorme dedicação como mãe inesperada que teve de ser.
Se já me habituei a tê-las às três noutro sítio que não ao pé de mim?
Ainda não, e não sei se algum dia me habituarei, penso que irei aprendendo a aceitar e a lidar com as imensas saudades. Tem sido um ano de descoberta, um ano em que de diferentes maneiras vou sentido a sua falta. Têm sido várias as vezes em que antes de adormecer dou por mim a pensar no que é que a avó me diria? O que é que a avó faria? Que contente que ficava se soubesse disto… E  para matar um bocadinho as saudades ligo para o seu telemóvel, por alguns segundos ouço a sua voz e recordo a tarde de São Martinho, em que juntas a gravámos! Rapidamente me apercebo que o som da sua voz a dizer “ Ligou para a Zé Raposo por favor deixe a sua mensagem. Obrigado” não chega para preencher o meu coração saudoso… aí começo a fazer o que me pediu e deixo-lhe a minha mensagem, conversamos as duas, lembro-me de tantas coisas boas que vivemos juntas, vão aparecendo as más porque também existiram mas realmente as boas sobressaem e vão-me confortando o coração.
Quando fui para a Graciosa lembro-me que passado uns anos chorava à noite com saudades dos pais, lembro-me dos mimos que a avó me dava quando, ao ir ao nosso quarto dar-nos um beijinho de boa noite se apercebia. Agora não a tenho aqui para me dar mimos e mesmo já sendo mais velha, muitas vezes me sinto pequenina mas uma pequenina que chora e percebe que as lágrimas se caem pelo rosto é porque a avó deixou marcas, é sinal que realmente foi mais que a minha avó Zézinha, foi minha mãe!

Quer saber o que neste ano fui descobrindo e só o consegui consigo?
Descobri o que é o verdadeiro amor! Muitas vezes lhe disse que a adorava e que a tinha sempre no coração, sem saber enganei-me e enganei-a também, eu não a adoro eu AMO-A!
Foi preciso um ano de acontecimentos e saudades para descobrir que realmente nunca tinha sentido isto. Vi que realmente alguma coisa mais do que gostar nos unia, vi que quando realmente se AMA, quando realmente se sente o verdadeiro amor conseguimos ouvir e aceitar as críticas, verdadeiras ou não, porque o que nos interessa é o que o nosso coração sente e o meu coração sente um enorme amor pela avó e por tudo o que vivemos juntas, bom e mau! Não preciso de lhe perdoar nada porque o meu coração fá-lo por mim. Acredito que o Amor, tal como a fé, é uma dádiva de Deus! E a Fé cada um a tem e sente à sua maneira, cada um a demonstra e vive de maneira singular. Agradeço a forma como vivi a avó, como a conheci e a vida que me deu. Agradeço-lhe por através de si avó Zézinha ter descoberto e sentido este sentimento tão bonito que é o Amor e que por muito que tente não consigo explicá-lo em palavras. Sinto-o!
Como o senti e Vivi, pois fiz parte desta Grande história de amor que é a do avô Fernando e da Avó Zé, fiz eu e todos nós!

Querida avó o seu Fernando continua um valente, sente saudades suas de uma maneira que nem a palavra Saudade consegue demonstrar!  Como me diz muitas vezes Vê a avó em todo o lado e acredito que em tudo lhe faz uma falta enorme.
Os filhos, netos, irmãos e amigos têm tentado substituir o que realmente por muito que tentemos e queiramos é insubstituível pois como a avó me dizia a rir “Em morrendo a macaca acabou-se a comédia!”
É verdade, a peça ficou sem a macaca, o palco tem saudades mas continua em pé, os actores continuam a ensaiar, cada um o seu papel, cada um à sua maneira, cada um a descobrir e a aceitar a personagem que esta nova peça lhes pede! Cada um à sua maneira tem tentado encontrar a comédia nesta peça que é a vida! Há que louvar e agradecer ao público amigo que nos apoia e aplaude, sempre que um de nós se esquece que para ser comédia há que rir e fazer rir!
Os avós deram-nos um palco já com um belo cenário montado. Cabe-nos a nós, TODOS JUNTOS E UNIDOS continuarmos a comédia. Cabe-nos a nós, Raposinhos Graciosas honrar  todos os Pai Nossos que os avós rezaram de mãos dadas para que, dentro das nossas diferenças, fossemos todos AMIGOS! Pois só juntos e unidos vamos conseguir passar todas as cenas que Deus vai acrescentando à nossa comédia, JUNTOS e UNIDOS somos e conseguimos mais, JUNTOS E UNIDOS damos uma enorme alegria e descanso a esta nossa mãe!

Aqui lhe deixo um enorme beijinho carregadinho de saudades!

Ticas

12-11-2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

"OBRIGADO"


Algures por Lisboa cruzei-me no elevador com um homem dos seus 50 e poucos anos. Como sempre a conversa foi a típica dos elevadores: o tempo! Em resposta ao meu simples “Bom dia!” tive um:
 -“ Mau dia! Com este tempo! Qualquer dia morremos todos, com esta crise já andamos a passar fome nem o tempo ajuda!” ao que respondi “ Fome passam as crianças em África e essas sim morrem todos os dias de fome! Graças a Deus nós apenas temos “vontade de comer”!"

Fui educada assim, a dar valor às coisas essenciais da vida, a nunca dizer “avó tenho fome” mas sim “avó tenho mesmo vontade de comer alguma coisa!”, a nunca dizer “não gosto”, quanto muito “não aprecio” mas mesmo se o dissesse teria que comer o que tinha à frente, por isso de nada me valia dizer! 

Fui educada e habituada a “saber” comer tudo, e quando realmente não gostava de alguma coisa com a persistência e insistência Dela, passei a gostar de algumas e a "saber engolir" outras com boa cara.

Fui educada simplesmente a não ser esquisita, a dar valor aquilo que tenho sem precisar de o perder para tal! Fui educada a dar valor a ter uma casa, família, a ter  a sorte de viver num pais que não está em guerra, num pais onde felizmente a principal causa de morte não é a fome, onde a comida é abundante e quando não o é, existem instituições que tentam colmatar essa falta. 

 É preciso que cada um de nós saiba agradecer aquilo que tem! É importante que nos saibamos queixar, todos gostamos e precisamos de nos lamentar, todos nós precisamos de conforto mas que o lamento seja com peso conta e medida, é importante que não caiamos no erro da lamechice exagerada!
Que não façamos da Lamentação o nosso estado de espírito, mas sim arregaçar as mangas, ter atitude e fazer por nós!  "Para trás mija a burra e para a frente é que é o caminho" já dizia a minha avó Zé, e que, de uma maneira mais bonita alguém diz, "Em tempo de crise há aqueles que choram e há aqueles que vendem lenços de papel."

É importante que saibamos agradecer o facto de sabermos o que são bolachas de chocolate, Estrelitas, Coca-cola etc. Há crianças que nunca viram um simples pão com manteiga! A cada minuto,12 crianças morrem de fome no mundo enquanto nós estamos a comer sushi , aconchegados com mantas em casa a ver um filme e a devorar pipocas aquecidas num microondas! Crianças são atropeladas como se fossem bonecos e nada se faz, crianças andam armadas e matam! Crianças nem sabem o que é uma casa! Saibamos AGRADECER e dar o devido VALOR ao que temos nem que seja por respeito aos que não têm, tão cedo não vão ter, e nem sonhar com tudo isto conseguem porque no mundo deles tudo isto simplesmente não existe!


Graças a Deus vivo em Portugal, Graças a Deus nasci neste pais, graças a Deus tenho uma família que adoro, graças a Deus tenho óptimos amigos que me aturam e tornam a minha vida mais divertida, Graças a Deus tenho o Manuel ao meu lado, Graças a Deus nunca senti fome e não preciso de a sentir para dar valor ao que tenho...uma simples “vontade de comer!”

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe!



Hoje passamos por uma crise enorme, que todos os dias é escrita em todos os jornais, que em todos os canais se debate, mas há uma crise que para mim ainda é maior e talvez a causa de todas as outras crises, a crise nos VALORES!

Sempre existiram raposas e galinheiros, a diferença é que as raposas de hoje não têm vergonha, as raposas de hoje assaltam os galinheiros à descarada, não esperam pela noite, fazem-no de dia! E enquanto o vão fazendo vão e foram habituando as galinhas a terem vidas de cães de luxo!

As galinhas, que sempre estiveram habituadas a picar o milho e a dormir na palha de repente e sem fazerem mais por isso, passaram a ser tratadas com uma ração especial, a ter um galinheiro aquecido, a tratar das suas penas e com tudo isto algumas até acharam que poderiam vir a ser águias!

Quando o luxo é muito e nada tem que se fazer para o merecer é fácil viver num sonho! Difícil é, quando um dia alguém chega e diz :
"Galinhas, andaram estes anos todos a ter uma vida de luxo e nem por isso produziram mais ovos, pelo contrário, as galinhas do vizinho trabalham mais horas, produzem mais e mesmo assim têm menos luxos! Acabou-se o tempo das galinhas que acham que são cães! A realidade, é que não são cães de luxo e a vida a que estiveram habituadas foi uma vida de engano e vai ter que mudar! As raposas foram muitas, os luxos imensos,o vosso galinheiro, sustentado por todas as galinhas, fechou!"

Acham que as galinhas perceberam o que se passava? Acham que as galinhas perceberam que durante anos andaram a ser cães de luxo às custas de todas as outras e por isso também elas raposas?

Não! Muitas delas se já não produziam ovos, agora muito menos! Na cabeça delas nada podia mudar, já estavam naquele galinheiro, os biscoitos já lhes eram dados à muito tempo por isso não seria agora que uma crise no Big Galinheiro as iria afectar! 

Os hábitos custam a mudar e mais ainda a admitir os exageros por isso a culpa de tudo só pode e tem de ser das raposas!( Esquecem-se elas que também o são)

E aqui começa o culpabilizar de tudo e mais alguma coisa em alguém, aqui começa a falta de responsabilidade por aquilo que fazemos, aqui começa a evidenciar-se a falta de VALORES que se tem vivido e nos faz estar onde estamos! Aqui começa a falta de dignidade quando se defende uma coisa para a qual nada se faz! Começa aqui o reboliço no galinheiro!

A culpa não é só das raposas, é de todas as galinhas que são metidas num galinheiro de luxo e lá ficam sem nada fazer! A culpa é de todas as que não querem trabalhar, pior, que têm alguém acima delas que não as deixa trabalhar e aceitam! A culpa é de todas as galinhas que em vez de fazerem por merecerem os luxos exagerados que tinham se deixaram andar num galinheiro onde o sistema já está corrupto e furado há demasiado tempo!Onde para pôr um ovo são precisas duas, a galinha que põe e a galinha que olha! A culpa é de várias gerações de galinhas que nasceram numa altura em que para ser cão de luxo bastava ser amiga de um galo!
Não há valores, não há responsabilidade, não há frontalidade, não há consciencialização de que para sermos cães de luxo temos que o merecer, temos que fazer por isso!Temos que merecer a confiança de um Galo que nos aceita ou põe num galinheiro, mostrar que somos e valemos a aposta feita


As galinhas não vão estar preparadas para terem de pôr X ovos por dia e no fim do mês ainda se mostrarem motivadas para conseguirem pôr X+1!sobretudo, não vão estar preparadas para fazer aquilo que em toda a vida acharam que fizeram: TRABALHAR!

O galinheiro está prestes a fechar ainda assim não aceitam nem percebem que a realidade é esta: o tempo dos cães de luxo já foi há muito tempo, há que voltar a picar milho! Ainda não têm consciência que para ter há que fazer e que o que têm não foi merecido foi-lhes dado porque sim, foi-lhes dado por alguém que num dia para agradar raposas e galos decidiu que ia tratar as galinhas como cães de luxo e proporcionar-lhes uma vida em "modo férias prolongadas e remuneradas" subsidiadas por todas as outras!

Agora?

Espero mesmo e tenho fé que não haja mal que sempre dure e que as pessoas realmente façam por isso, que as pessoas realizem que vai ter que haver uma grande mudança e que começa em cada um e em coisas pequenas, porque o bem durou mas já acabou e há muito!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Que nenhum de nós desista e deixe ir um touro vivo para dentro!


Homenagem à Senhora Marquesa da Graciosa ( querida avó Zézinha)


Corrida de touros 13 de Agosto de 2011 em Idanha-a-Nova




Quis Deus que eu tivesse a sorte que esta Grande Senhora fosse minha avó e não contente com essa sorte, Deus deu-me ainda o privilégio de a ter como mãe. Hoje, agradeço-lhe esta dádiva de ser sua neta e sua filha, de através da avó ter aprendido e enriquecido tanto e constatado que realmente " Deus é grande e não dorme". Não fui a única a ter esta sorte , este privilégio e a dar graças por esta dádiva. Muitos foram aqueles de quem a avó foi mãe mesmo sem o ser!
Começou por o ser em Idanha-a-Nova, onde com o avô construio a casa dos seus olhos, o cantinho dos dois. Onde cresceram os tios e, mais que os tios, onde surgiu uma pequena aldeia. Entre os caseiros e os seus filhos, ciganos e burros, missas aos domingos na Capela, aulas, brincadeiras e garraiadas no tentadero...o Valongo era uma aldeia que não parava, era uma vida que dava vidas. Os avós criaram muitos e muitos foram os que saciavam a sua fome no Valongo, muitos seguiram as suas vidas devido aos empurrões e ajudas dos avós e se estes o fizeram, foi sempre pelo amor ao próximo, pelo enorme e bonito amor que tinham para dar os dois juntos. Viviam e vivem no amor e pelo amor e assim vale a pena viver, assim é fácil fazer de uma casa uma escola e de uma quinta uma aldeia.
A primeira lembrança que tenho de touradas, ainda era pequenina. A meio da noite fui com os meus pais e irmã colar cartazes de uma tourada pelas paredes das ruas de Idanha-a-Nova. Naquela noite fomos todos ajudar à Festa Brava e se o fizemos foi porque havia um enorme gosto e prazer pela tradição. A festa tem isto de bonito, juntar e unir as pessoas, dar momentos de alegria e emoção que marcam, que ficam, duram e passam de geração em geração.
A partir daqui as minhas lembranças já metem a avó Zé. A minha vaga ideia do que pode ser tourear ou pegar bem, já tem muito de avó Zé e avô Fernando. Muitas foram as vezes em que a avó foi com o avô Fernando e os amigos, ver o Juli tourear, no Café Central, na Golegã. Admirava-a não só pelo companheirismo que tinha com o avô em tudo o que faziam, em em especial por isto, por ver que assistia às corridas entre amigos homens, também como uma aficionada, mas sempre como e uma Senhora. Porque gostava, porque lhe dava prazer ver, aprender, criticar. Vivia e vibrava com a Festa de uma maneira divertida e digna de uma Senhora, de uma mãe.
Recebia os forcados e amigos de forcados e onde cabiam vinte, cabiam trinta. Era uma aficionada muito exigente, crítica e tradicional. Não gostava dos violinos e o tricórnio deveria ser mantido toda a lide, só os que realmente sabiam montar o conseguiam fazer e faziam. Montar bem era essencial, mas não era para todos, porque exigia muito, a valentia era necessária mas nem sempre existia. Os touros, cada vez maiores e cada vez com menos genica. Se os cavaleiros não davam festas aos cavalos a avó reclamava, se lhes davam demasiado com as esporas também resmungava, gamarras?! É melhor nem me estender mais...
Era uma mãe orgulhosa, não o transmitia fugazmente, mas as fotografias espalhadas pela casa em molduras ou coladas nos biombos falam por si. Com o avô deu muito à Festa Brava, dos dez filhos que tiveram, todos contribuiram directa e indirectamente para que este grande ambiente fosse ainda maior. Uns a pegar, o meu pai que começou pelo Grupo de Forcados do Ribatejo e acabou no grupo de Forcados Amadores de Santarém, onde também estiveram os tos Fernando, Domingos e Pedro, tendo o tio Pedro sido cabo destes entre 2002 e 2008. O tio Domingos, por brincadeira, gosto e diversão, ainda toureou algumas vezes e desse prazer ainda preparou e ensinou bons cavalos a tourear. Quem não se lembra do "Importante", cavalo montado pelo toureiro Rui Salvador, ensinado por Domingos Graciosa e que tantas boas lides nos proporcionou? Eu bem me lembro dos telefonemas orgulhosos que a avó Zé fazia a gabar-se deste e outros cavalos que iam sendo vendidos a toureiros. O grande "Gazi" cavalo ensinado pelo tio Filipe que toureou com o Álvaro Domecq e depois ficou na Escola de Jerez! O tio Manuel não pegava, não toureava, mas animava! Festa sem animação não é festa. Ainda tentou ao de leve, assisti eu em pequena uma vez, vestir-se de bandarilheiro, mas não passou de fazer as cortesias e passar um quarto da praça a correr! Só isso chegou para que fosse aplaudido e gerasse ali animação!
Os outros filhos não foram forcados, não foram toureiros nem toureiras, mas encheram as praças e arenas com os seus filhos, uns nas bancadas, outros nas arenas: José Maria ( Grupo de Forcados de Santarém), Henrique e Rodrigo ( Grupo de Forcados de Montemor-o-Novo), Pedro ( Grupo das Caldas da Rainha), Luís e João (Grupo de Forcados da Moita). O João Filipe, que através do site que criou, cavalonet.com, espalha por todo o mundo os cavalos, as touradas, a tradição.
Esta Grande Senhora merece como homenagem, não um minuto de silêncio mas valentes aplausos! Valentes aplausos tal como a avó era...valente! Valentes aplausos cheios de garra, cheios de sorrisos, cheios de expectativas, corações a baterem mais forte e depressa, porque afinal foi isso que sentiu durante anos! Um forte e sentido aplauso por tudo o que foi e trouxe para a Festa Brava e que através dos filhos, netos e amigos continua a ser, a dar e a estar presente no meio de nós, no meio desta Festa.
Um forte e sentido aplauso pela Grande Mulher, pela Grande Mãe, pela Grande Avó, pela Senhora que foi! Que o continue a ser todos os dias para nós e que cada vez que um Raposinho Graciosa esteja em praça se veja a avó, se veja tudo o que ela foi e aguentou pelos que mais adorava. Que saibamos dar valor a todas as mães que, tal como ela, dão tanto de si a esta Festa, nas bancadas, em casa e hoje em especial em Idanha-a-Nova, terra onde com o avô Fernando foi tão Feliz. Terra onde em tempos, esta grande senhora fez com que na altura o mais solicitado matador de touros do mundo, Manuel dos Santos, fosse tourear para beneficiência da Santa Casa da Misericórdia e como este, muitos mais. Hoje a homenagem é a esta mãe tão querida que deixa muitas saudades, mas que há-de estar a olhar por todos nós, há-de estar ao lado do Luís e do Pedro cada vez que saltarem para a arena, da Sofia quando entrar vistosa e bonita numa praça, a dar o ar da sua graça e brilho à bancada, e de todos nós, que por uma razão ou outra continuamos a ir às praças.
 A vida foi muitas vezes dura com a avó, muitas vezes a pôs à prova e que valentes pegas a avó fez! Com o avô Fernando sempre Nas ajudas e a enorme Fé que têm, superou todas as pegas umas melhores que as outras, duas pelo menos em que os touros eram fortes, valentes e bravos, pegas que nenhuma mãe teria que ter pela frente, mas superou-as! Ficou com cicatrizes, com marcas que a tornaram mais dura, mais rija, mais pão-pão, queijo-queijo...e vamos para o que interessa que na vida não há tempo para lamentações.
A avó agia, fazia e acontecia, não esperava que algué, fizesse por ela. E foi essa rigidez que passou a todos os que mais adorava, para que, se um dia a vida nos puser à prova, se a vida nos colocar um touro na frente, o saibamos pegar e enfrentar de caras, saibamos lidar com o medo de entrar numa praça, de saltar para a arena ou ver um dos nossos a fazê-lo, saibamos lidar com uma pega à primeira, mas também consigamos aprender se uma ajuda falha e a pega for à terceira ou à quarta. Saibamos perceber que o ferro não foi bem sucedido, que o touro não tem bravura e a lide é dificil e chata de se ver, mas que estejamos na arena!
Que nenhum de nós desista e deixe ir um touro vivo para dentro! Que a vida e os touros que nos vai pondo são para ser enfrentados de frente..
Os avós já nos deram as jaquetas, os cavalos, as bandarilhas e a praça, resta-nos que apareça um ou mais touros pelo caminho para sabermos como lidar com eles. Se somos dignos deste legado que nos transmitiram? Acredito que umas vezes sim outras vezes não, numas vamos fraquejar e querer saltar para dentro da trincheira, mas se a jaqueta é boa, os cavalos estão bem ensinados e a praça está cheia, nada como voltar a saltar para a arena e recomeçar com um "Touro, touro, touro! Anda cá touro Lindo!".
Errar, persistir ou fugir do erro é que nos torna como os animais e nos tira aquilo que nos diferencia deles, o sorriso. Foi isto que aprendi com a avó, a agarrar a vida e a viver a vida, não fugir dela e do que nos possa trazer.
A avó achava que "as homenagens são para palhaços, mas tem que haver palhaços para isso!". Hoje a homenagem é para si, minha querida mãe, e se não gosta delas, tenha esta como um MUITO OBRIGADO, um reconhecimentos de tudo o que tem sido para todos nós, para as pessoas de Idanha-a-Nova. Por representar os valores dignos que representa, por ter vivido a vida e não ter, simplemente, passado por cá. Obrigado pela vida e amor que deu aos outros e pelos outros. Obrigado por ter estado sempre ao lado do avô Fernando e se alguma vez o passou, se pôs um passo à sua frente, tenho a certeza que o fez para o proteger, para fazero que na sua perspectiva era melhor!
Obrigado querida avó, por numa das suas maiores e duras pegas, ter tido a coragem e valentia de, ainda assim, levar consigo duas bezerrinhas e ajudá-las a perceber que, tal como nas praças, para a nossa vida ser um espectáculo digno de grandes praças e grande nomes do mundo do toureiro, temos que a viver com respeito, valentia, garra, diversão e muita bravura, temos que a enfrentar com a dignidade que merece.
Para que no fim, seja ele qual for, consigamos rever a nossa vida e imaginar uma praça inteira a aplaudir-nos de pé e a atirar-nos flores, porque vivemos, enfrentámos e pegámos de caras os vários touros da vida!
Parabéns avó, por hoje ter aqui uma praça inteira a aplaudi-la, por termos todos no nosso coração uma marca sua e que a sua vida tenha sido um espectáculo cheio de emoções e sensações, que dignifica qualquer praça, desde a mais simples à mais memorável!
A praça tem saudades, mas está cheia e aplaude!


Ticas