sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aquele Abraço!

Não sei como vos hei-de explicar o que sinto e que desde ontem me tem acompanhado! Foi sem dúvida aquele abraço que me marcou, depois de quase me partir os ossos tal foi a força e intensidade com que foi dado ,chegou-me ao coração e teima em não sair! Aquele abraço está em mim, fez-me sentir um turbilhão de sentimentos e emoções! Fez-me deitar uma lágrima ontem à noite, adormecer a pensar nele e a acordar e por a música bem alto no carro e cantar de felicidade e entusiasmo!

Dei por mim ainda a sentir a força daquele abraço, a recordar o sorriso com que foi dado e percebi que aquele abraço me deu garra, coragem e a motivação que precisava e que se calhar há muito não recebia! Aquele abraço chegou e ficou no meu coração, está nos meus pensamentos, está nas minhas ideias e continua a apertar-me as costelas e todos os ossos que tenho até ao pescoço! Aquele abraço fez-me lembrar os que dava à minha avó que eram de tal maneira fortes que só acabavam quando me dizia "Olhe que me parte o pescoço!".

Aquele abraço foi um abraço diferente mas tão especial, tão apertadinho, tão sentido! Aquele abraço foi-me dado por um "pretinho"! Aquele pretinho com os seus seis ou oito anos viu-me duas vezes quando através do Ajudar Uma Família fomos entregar um esquentador , frigorífico e brinquedos!
Aquele "pretinho" faz parte de uma família de cinco irmãos e a irmã de 11 anos morreu no dia de Natal. Aquele "pretinho" e os irmãos ainda acham que é uma brincadeira da mãe, que isso não aconteceu e a irmã vai deixar de ser só a fotografia que têm na sala e um dia vai aparecer para voltarem a brincar! Ou acham que vão acordar de manhã e ela está a dormir na cama dela! Este "pretinho" e os irmãos estão mais tristes e cabisbaixos do que há 1 mês atrás quando lá fui mas continuam a sorrir!

Continuam a querer estudar e ser alguém na vida! Quando chegámos o mais velho estava a ajudar um dos mais novos a estudar e mesmo com a entrega dos bilhetes para o Jardim Zoológico entre outros brinquedos, não tiraram os olhos dos livros! Este "pretinho" mais velho está na fase de entrar nos grupos de rua, de passar tempo sem nada de útil para fazer. De óptimo aluno passou para um aluno com mais negativas que positivas e  agora tem uma cara triste e virada para dentro! A mãe pediu-nos ajuda, queria que ele fosse alguém e que estudasse para vir a ter uma vida melhor do que a que ela lhe proporciona! Decidimos então que uma vez por semana o "pretinho" mais velho vai ter explicações comigo pelo menos a três disciplinas! Caso melhor as notas como prémio irão todos montar a cavalo e ter um dia no campo! Acredito que vamos conseguir, acredito que este "pretinho" que apenas com 14 anos protege a mãe e ajuda a educar os irmãos vai vingar e ser alguém na vida, JÁ o É! Pode ainda não se ter apercebido mas devagar irá perceber que tem um potencial enorme! Todos temos!

Assistimos a um teatro de fantoches inesperado e inventado na hora pelos "pretinhos" mais novos, fizemos magia com um jogo e chegou a hora de nos irmos embora...foi aí que recebi Aquele Abraço que ainda me acompanha hoje enquanto escrevo isto!

Foi ai que aquele "pretinho" me agarrou e apertou com tanta tanta força, com tanta vontade que ao mesmo tempo que lhe dizia "Assim vou emagrecer uns quantos centímetros" o que me apetecia dizer era "Não descoles que está a saber tão bem!".

Ainda nos rimos todos e da boca do querido "pretinho" saíram  palavras que me tocaram " - Mãe vou com a Ticas!" . Bem sei que foram ditas como todas as crianças a quem oferecermos chocolates ou rebuçados. Querem sempre ir de onde vem a diversão e os presentes. Mesmo estando consciente disso fiquei contente e tocou-me no coração! É bom ver que já não sou uma simples pessoa que através da ajuda de tantos lhes vai entregar mimos. Mas mais do estas palavras, aquele abraço tão querido, tão sentido, tão ingénuo e livre de tudo sensibilizou-me e encheu-me de tudo o que podemos ter de bom! Foi uma overdose de sentimentos puros!

Não o levei comigo mas um dia hei-de o levar a ele e aos irmãos, e a mais famílias a montarem a cavalo, ao teatro, à Torre de Belém, ao Palácio de Sintra, a um Centro de Pessoas com Deficiência, a um Lar de Idosos e a tudo o que conseguir que sirva para eles abrirem horizontes, aprenderem e perceberem que têm um mundo para conquistar e uma vida para viver!

Mais bonito seria se não fosse só eu, se fosses tu, se fossem eles, se fossemos todos NÓS! Bonito seria que todos nós largássemos os nossos medos, as nossas prisões e nos aventurássemos nisto de ajudar alguém. Extraordinário seria todos alinharmos nisto de nos deixarmos marcar e tocar pelo outro e conseguirmos retribuir não só com donativos mas o que de melhor temos para dar, o nosso coração!
Já Madre Teresa de Calcutá o dizia " A todos os que sofrem e estão sós, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração."

Talvez por isso eu os chame de "pretinhos" sem discriminação, sem qualquer desrespeito, digo "pretinhos" do fundo do coração, digo "pretinhos" como entre namorados se tratam por " baby, gorda, xuxu "etc. O que interessa é o que vai no coração, é o que sentimos e o que fazemos com isso.

Se formos pela cor da pele eu ai estou tramada e também poderiam eles não gostar de mim e chamarem-me "pintinhas", "branca às pintas" etc. Numa brincadeira que fiz com eles em que tínhamos que dar festinhas nos braços perguntaram-me o que é que eu tinha na pele? A olharem de maneira desconfiada respondi o que também digo aos meus primos "São caganitas de moscas! Ficam aqui e depois não saem!" A cara deles de espanto e nojo foi de chorar a rir! Para não continuarem a olhar para mim como se fosse um extraterrestre lá lhes tentei explicar melhor o que eram as sardas, continuaram a olhar para mim desconfiados e a mexer na minha pele!

Passado uns segundos já se tinham esquecido que a minha pele era estranha, que para além de ser tão branca como a neve ainda tinha umas pintas castanhas espalhadas por todo o lado! Podiam ter desistido de me agarrar e dar beijinhos eu que tenho uma pele tão estranha e nunca vista por eles, mas não...continuaram e a brincadeira seguiu. Posso concluir aqui que como mais uma vez Madre Teresa de Calcutá dizia "Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las." e é tão bom amar que quantos mais amarmos mais somos amados!


Eu ainda sinto AQUELE ABRAÇO! Eu ainda sinto aquele abraço como se me corresse nas veias e aquele abraço está-me a encher de ideias para o Ajudar Uma Família ser melhor, mais completo e chegar ao coração das famílias de tantas e diversas maneiras! Aquele abraço encheu-me de força e optimismo e está a gerar em mim uma vontade enorme de conseguir, como ele, dar um abraço tão bonito que toque assim alguém também!

Convido-os a todos a virem, a participarem, a experimentarem ser tocados no coração desta maneira! Vale mesmo a pena acreditem! Obrigado a todos os que têm ajudado e continuam a dar-nos mimos! Obrigado por não só Ajudarem Uma Família como me proporcionarem momentos como este e me ajudarem a ser uma pessoa melhor! OBRIGADO do fundo do coração!