segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Culpo-O pela minha Felicidade!

Quando alguém que amamos parte inesperadamente cedo demais. Quando uma mãe tenta não repartir a sua dor e sofrimento de um cancro. Um pai num palheiro faz disparar o fim de uma vida! Um filho morre num acidente e uma criança desesperadamente chora por cada marca deixada por alguém mais velho!
Quando vemos os que mais amamos e aqueles que não se podem defender a serem consumidos pela vida também nós sofremos! Penamos! Choramos!
Desesperamos pela dor imensa e massacramo-nos com a incapacidade de voltarmos atrás, de trocarmos, de darmos a vida por eles! Não conseguimos aceitar a impossibilidade de voltarmos atrás no tempo e suavemente alterármos as variáveis da equação.
Não queriamos um renascer total, bastava que fosse possível trocar aquele número de sitio! Aquela hora e aquele segundo! Apenas pedimos que nos deixassem baralhar tudo e fazer com que o destino também se perdesse e no fim não fosse nada mais do que um pesadelo em forma de chamada de atenção!
Mas a vida, tal como as equações merecem ser resolvidas! A vida exige-nos uma continuação! Não nos liberta do desgosto e das saudades! Lentamente faz-nos perceber que não basta sobreviver temos que viver!

Neste processo de perda de alguém que amamos em que tudo se desmorona e perde sentido e muitos de nós deixam de acreditar!
Muitos de nós preferem a negação e optam pelo facilitismo de colmatar em Deus todas as inquietudes e tristezas instaladas no coração. O Deus em quem até então acreditavam e se apoiavam deixa de existir!
Deus passa a ser afinal uma simples criação do homem como forma de entretenimento e refúgio para tudo aquilo em que não se encontra resposta!
Deus passa a ser aquele apoio de milhões e milhões de pessoas que por serem fracas precisam. Deus passa a ser aquele que se existisse não teria permitido que me acontecesse a mim! Se o permitiu, então não existe!
Posso culpá-Lo por todas as mães que fumam dois maços de tabaco por dia e têm cancro! Posso culpá-Lo pela falta de dinheiro que leva um pai de família ao desespero! Posso culpá-Lo pelo filho num dia de chuva que com o seu desejo de aventura bateu num camião quando o ultrapassava numa curva! Posso culpá-Lo pelas bofetadas que um pai alcoolizado dá nas filhas no meio da rua!

Poder, posso culpá-Lo de tudo! É o mais fácil! 

Não seria então, segundo este raciocinio obrigada a culpá-Lo, a revoltar-me contra ele e duvidar também da sua existência cada vez que sorrisse? Culpá-Lo por cada sucesso profissional alcançado? Culpá-Lo por cada vez que me emociono e apaixono?
Não teria também que o questionar e abandonar cada vez que se apoderasse de toda a alegria e felicidade e a distribuísse por mim e por todos os que me rodeiam?

Teríamos que o fazer mas não o fazemos!
Custa-nos agradecer e reconhecer! Quando está tudo bem somos nós, poderosos e auto suficientes, cheios do nosso ego mas quando alguma coisa falha já deixamos que o super ego adormeça e esqueça que existe!
É extraordinariamente fácil cruxifica-Lo e culpá-Lo de todas as coisas que nos magoam e não conseguimos explicar mas por outro lado somos incapazes de O culpar por todas as coisas fantásticas que nos acontecem! Por todos os corações cheios , por um simples respirar!
Tendemos a ser fracos! Tendemos a optar pelo mais fácil e atacar quem mais nos ama! Preferimos fugir com a desculpa que deixámos de acreditar pois se É omnipotente e presente não permitiria que os nossos corações fossem destroçados! Optamos por escondermo-nos atrás Dele e fugir ao confronto das leis da vida!
Custa dizer a minha mãe tem um cancro porque optou por fumar, o meu pai suicidou-se porque nao teve a coragem suficiente para como homem falhar perante a familia, o meu filho não teve atenção e ao fazer uma contraordenação bateu num camião e morreu, o meu vizinho esbofeteia a filha eu ouço e não faço nada e por isso cada marca tem um dedo meu!
Custa tratar as coisas pelos nomes! 
A mim custa-me mais fugir dos nomes e da realidade! Perder o sentido da morte e esconder-me cobardamente atrás de Deus! 
Deus criou-nos! Por nos amar deu-nos a liberdade! A possibilidade de escolhermos amá-lo ou não, acreditar ou não! Permite-nos duvidar e afastar Dele.
Dá-nos sobretudo a possibilidade de fazermos um caminho nosso. De optarmos pela direcção a seguir. De o fazermos com ou sem Ele e nesse caminho espera que aconteçam erros, dúvidas, medos e incertezas!  Não nos deseja a infelicidade mas quando esta surge está a dar-nos a mão!
É o primeiro a querer que nas nossas escolhas consigamos aprender, crescer e ir dando um sentido ao estar vivo. Ao amar e ser amado! 

É isso que eu acho que Deus nos pede, não para questionarmos o que aconteceu, mas por e para que é que aconteceu?
Que perdi? Que ganhei? Que vou fazer com tudo isto? Ficar mais forte ou enfraquecer? Deixar-me consumir e  ir perdendo também eu a vida? Ou devagar ir dando valor ao que tive e tenho?

Ninguém disse que ia ser perfeito! Ninguém disse que íamos conseguir mas somos mais do que crianças a jogar às escondidas. Somos mais do que Homens a culpar alguém em quem supostamente não acreditamos! Se O culpamos é porque mesmo que não queiramos aceitá-Lo, achamos que existe!

Respeito quem não acredita, quem não o sente e acredita noutros Deuses ou em nenhum!
Nunca iria deixar de acreditar Nele pelas saudades que sinto de pessoas que amo! Nunca iria deixá-Lo assumir  o peso de decisões e atitudes que não as d'Ele.

Agradeço-Lhe estar comigo todos os dias e ter a enorme  paciência  e bondade cada vez que mudo o sentido da minha vida e também o perco! Cada vez que ponho em causa o que andarei cá eu a fazer?!
Agradeço-Lhe todos os sinais que consegui ver e me fizeram acreditar no amor e no perdão!
Agradeço-Lhe os meus pais, os meus avós, a minha família, os meus amigos e todas as pessoas que passam por mim e me dão alguma coisa.

Culpo-O sem dúvida alguma pela minha felicidade!