terça-feira, 2 de outubro de 2012

Amar um homossexual!

Muitas vezes falei entre amigos, muitas vezes pensei e repensei nisto de ser heterossexual  ou homossexual! Apeteceu-me escrever sobre o assunto mas sendo um tema que causa controvérsias e divergências e do qual não tenho conhecimentos suficientes para ter mais do que a minha simples opinião e maneira de ver este mundo acabei sempre por não escrever.


Gosto de pensar nestes casos como se acontecessem a alguém ao meu lado, a alguém da minha família! E se um dia tiver um filho homossexual?
Esforço-me por tentar ver assim e contrariar o facilitismo com que falo de conhecidos, dos outros que não são os nossos! É fácil construirmos preconceitos e barreiras com outros distantes e a quem não amamos. E se forem os nossos?

Alguém me disse que se um filho fosse homossexual não o conseguiria olhar e amar da mesma maneira. Iria ficar tão triste que não ia conseguir ser o mesmo e o seu filho iria perceber e afastar-se.
Não consigo concordar com isto! Não consigo imaginar que o amor de pai ou mãe deixe de existir por isto. A leveza com que nos esquecemo-nos que somos seres diferentes  cheios de espirito e alma que dão vida ao nosso corpo é muita e fácil!

Duas pessoas por desejo e escolha decidem ter um filho! Optam os dois por gerar um ser que não pediu para nascer, vai fazê-lo porque eles assim o quiseram! Quiseram dar vida à ao amor que sentem e por isso mesmo cuidar dele, amá-lo, educa-lo e respeitá-lo!
Comprometem-se a estar sempre presentes na criação da sua obra prima! A dar-lhe as melhores tintas, as mais diversas cores os mais belos horizontes! Por amor fazem tudo para que esta vá nascendo e crescendo na melhor tela. Tentam conseguir as melhores e diversas cores para que a pintura consiga nos seus dedos ficar cada vez mais bonita e de óptima qualidade! Aprendem técnicas para quando um pincel deixar cair uma gota de tinta ou uma mão tremer, conseguirem emendar e recuperar a pintura! Compram uma moldura bonita e clássica, cheia de história e simbolismos e anseiam que o quadro que idealizaram se finalize! Tudo terá que ser perfeito! As bases são óptimas, os materiais espectaculares, a moldura extrordinariamente bonita e rara! A parede já fora escolhida e reservada há anos!

Exposição inaugurada, champanhe e aperitivos deliciosos e bem servidos! Ambiente descontraído e curioso. Mãe e pai tiram o pano que irá desvendar e mostrar a todos o enorme orgulho que têm da sua obra prima, do seu mais que tudo! O pano cai, o quadro que está na tela tão bem escolhida, na moldura tão bem polida não é o que eles queriam e esperavam! Não é o quadro que fez os convidados aplaudir e licitar, pelo contrário, entre olhares de espanto e malvadez disfarçam um grande wow !
A pintura exposta desilude as expectativas criadas. Destrói sonhos e investe contra a normalidade aceite! A pintura final mesmo não tendo sido criada pelos pais causa-lhes embaraço!
Sentimentos menos puros, como a vergonha e medo da sociedade, ganham força e quase anulam o amor que têm pela obra prima, criada e amada pelos dois!
Onde é que falharam? Nas tintas? Nas paisagens? Terão sido eles os pinceis mais fracos?
Não há falhas quando se pinta um quadro, há amor e respeito pela obra que se está a criar!  A única falha é quando se deixa de amar uma obra por ela não ser aquilo que pretendíamos!

 
Valerá a pena abandonar uma obra tão pura e bonita, uma obra que expõe toda a nossa ingenuidade e alma  só porque é diferente de nós? Só porque a sociedade não a admira e considera obra de arte?

Acho que não! Nenhuma obra deve ser abandonada e desrespeitada!
Ainda não sou mãe! Sou filha, irmã, neta, sobrinha, prima, amiga e namorada. Conheço e vivo estas maneiras de se amar o outro! Sinto-as de uma forma tão intensa que me custa muito imaginar um amor de mãe e pai morrer por isto!
Imagino que custe deitar por terra a normalidade incutida por todos nós e aceitar que temos nossa uma pintura diferente que também criticamos e recusamos ver. Custa imaginar um bailado diferente daquele que dançamos! É difícil libertarmo-nos daquilo que queremos, dos nossos medos e amarmos os nossos tal como são. Mas isso não é o que se pede de uma mãe e de um pai? Que corram o risco de criar um quadro sem saberem que pintura terá e mesmo assim amá-lo?

Tenho pena de todas aquelas pessoas que não conseguem ser felizes tal como são! Independentemente da minha educação, dos meus princípios, da minha maneira de estar e dos valores de família que tenho, não me sinto bem quando vejo pessoas infelizes!
Faz-me confusão quando deixam de o ser, não pelo peso de terem morto, roubado, drogado, vigarizado ou espancado alguém mas simplesmente porque dentro das suas diferenças não conseguem encontrar um lugar na sociedade! 
Todos temos o direito de sermos quem somos, todos temos o dever de ser felizes! Somos diferentes e na diferença não se pretende que se goste do mesmo mas que se respeite.
É fácil falarmos e afastamor-nos mas quando os outros são os nossos há que evitar tomar também a atitude mais fácil: fingir que se deixou de amar!

Há que amar e respeitar porque não nos podemos desfazer de uma obra criada e desejada por nós! A obra precisa sempre do amor e assinatura dos criadores! Afinal ser pintor é deixar-se levar pela inspiração e sobretudo amar, amar e amar a sua obra! Deixá-la andar de museu em museu, de parede em parede mas sempre com a certeza que é amada e respeitada!