sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Pé ante pé!

Há um ano decidi começar a aventura de escrever um livro.
Comprei três cadernos em branco e durante algumas semanas escrevi e escrevi.
Apesar de ainda não ter delineado o fim, sempre soube o principio e foi fácil deixar rastos de tinta no papel.
Um dia o meu querido avô sempre interessado pediu-me para ler as primeiras trinta páginas... desde esse dia que bloquei. Começava a escrever e riscava, pensava em todas as frases três vezes e relia tudo vezes sem conta. Escrever tornou-se um esforço e fui deixando de o fazer.
Percebi que tenho pânico de ser avaliada e piora quando o avaliador é aquele que amo!
Conheci em mim o medo de pôr à prova aquilo que faço, dar a alguém a oportunidade de estragar o que nos dá prazer fazer é complicado.
Sei que o meu avô gosta do que escrevo, incentiva-me e sempre foi o primeiro a investir em mim em tudo mas na escrita em especial. Era aos meus avós que desde pequena escrevia para lhes dizer o que sentia e me ia na alma e talvez por isso a fasquia tenha aumentado e os meus dedos bloqueado!

Foram surgindo vários cursos e um deles com um amigo que escreve e tão bem! A vontade de participar sempre fora imensa mas lá voltava o medo, escrever para uma amigo? Dar-me a conhecer da maneira mais pura e intima que consigo - a escrita- não vai ser fácil e mais ainda com um amigo?
Nunca me inscrevi!
Até que há uns dias atrás em que a passear pelo facebook li na página do Manuel Forjaz a sugestão da Oficina de escrita de Manuela Gonzaga em que o tema é "A minha vida dava um livro".
Leio mais e a estrutura é uma viagem por nós mesmos, quem sou eu? que pessoas ao meu redor me marcaram? A minha vida dava um livro! - e não é que o nome do meu blogue está perto?

Pesquisei a escritora, gostei das criticas e cada vez mais me queria inscrever!
Liguei ao meu amigo, pedi-lhe desculpa pela sacanagem de ponderar fazer outro curso que não o dele e entrei na parada!

Comprei o livro "Maria Adelaide Coelho da Cunha: DOIDA NÃO E NÃO"  de Manuela Gonzaga para não ter medo de despir a minha alma e assim levar comigo uma ténue segurança no vago conhecimento de  quem receberá as minhas letras, as minhas palavras, os meus textos tão cheias de coração!

Um dos muitos passos foi agora dado! Um dos vários medos espero que seja ultrapassado!
Pé ante pé vou criando e escrendo o livro, pé ante pé vou-me conhecendo! 

O que é que sentes Ticas?
Borboletas!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Amanhã é outro dia!






Conheciam-se há anos.
Trocaram brincadeiras, fizeram apostas, mascaram a pastilha um do outro!
Sem vergonhas partilharam segredos entre meias com o dedo grande a espreitar.
Fumaram às escondidas, beberam copos e escaparam entre o luar e amanhecer.
Confidenciaram o primeiro beijo, contaram entusiasmados a primeira noite.
Discutiram e choraram juntos.
Acabaram por bater a porta e a amizade converteu-se em pólen sobre o ar.
Cruzam-se, falam-se, trocam palavras quando o desejo é de abraçar!
Bebem uns copos e frases são ditas...
A amizade reaparece, as zangas esquecem-se e tudo flui.
Passados dias reencontram-se num meio mais fechado.
As lembranças voltam, os ressentimentos mantêm-se!
A bebida é água pura e fresca sem rasto algum de álcool.
A frieza e orgulho exibem-se para esconder a alegria do reencontro.
A amizade volta a ser pólen quando o desejo é de abraçar!
Reconfortam-se por se verem bem!
Inspiram forte e entusiasmam-se com a impossibilidade de matarem saudades...
Revivem imagens dos melhores tempos das suas vidas,
Sorriem por dentro e o coração palpita.
Estremecem e optam por recordar apenas as horas vividas,
Abdicam de um segundo sincero de reconciliação...

A amizade vai-se perdendo quando o desejo é de abraçar!

As palavras quando não pronunciadas ou escritas existem apenas em nós!
O que pensamos e sentimos são apenas ideias vagas e sem destino se não damos asas ao desejo e abraçamos!
Há palavras que não merecem ser ditas em prole de outras que terão que o ser.

-Gosto de ti! Quero abraçar-te! Posso?

-Quero!

- E o resto?

- Amanhã é outro dia!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Um dia tive um sonho...





Há sonhos impossíveis de realizar, pedidos impossíveis de alcançar!
Em pequena foram várias as vezes em que sonhei que os meus pais interrompiam o meu sono irrequieto e calmamente entravam os dois pelo meu quarto!
A primeira sensação era de que até aquele momento tudo tinha sido ficção! Estavam vivos e por alguma razão teriam estado escondidos! No meu imaginário teriam aguentado todo o tempo sem me ver apenas para me surpreenderem, apenas para passarem a porta e invadirem os meus pesadelos tal raio de sol que espreita entre as portadas da janela.
O meu coração palpitou inúmeras vezes longos minutos, o meu sossego esquecia o desassossego constante e o meu espírito e alma sorriam! Nesses segundos, que transformaria em eternidade, dormia numa suave nuvem de algodão embalada por ternas mãos. Eles não se chegavam o suficiente e eu não saia da cama mas vi-os ali a olhar para mim, sentia-os perto!

A vontade de os ter comigo de os querer ali perto de mim era tal e em demasia que não me permitia acreditar que já não estavam!
O meu subconsciente brincava com o meu consciente ainda demasiado novo e criança para duvidar do quer que seja! E neste jogo de escondidas foram-me pregando estas partidas e dúvidas terríveis!
Permitiam-me minutos de alegrias explosivas e retiravam-mas em milésimos de segundos! Foram ilusões repetidas tantas e tantas vezes que pareciam reais!

Chorei e chorei todas as vezes em que abri os olhos e na porta não estava ninguém!
Chorei e chorei quando percebi que na nossa realidade os mortos não jogam às escondidas para fazer “surpresa”!
Chorei e chorei quando aos poucos e todos os dias parte de mim se ia apercebendo e interiorizando do que era e é a morte!
Chorei e chorei cada vez que sentia que perdera alguém que me ama e amo!
Chorei e choro!

Com cada lágrima escorrida cresci e aprendi!
Aprendi a lidar com todas estas partidas e jogos e percebi que é essencial ter tudo no consciente!
É necessário encararmos os factos da nossa vida mesmo que estes nos façam chorar e chorar!
Torna-se imprescindível conhecermo-nos e percebermos a razão de cada lágrima pois entre linhas e laçarotes e por muito que se fuja somos sempre descobertos!

Voar a achar que tenho asas?
Seria um risco!

Aprendi a sonhar! A viajar entre nuvens que me deem oportunidades de matar saudades! A alimentar sonhos que me permitam voar! A saber o que tenho e onde devo e posso planar! A ser feliz com que a minha falta de asas me permite viver e sentir! Sobrevoo o que me agrada e sem dúvida que aterro na aposta que todos os dias faço, em mim!

Realista ou ilusionista?
A maioria das vezes realista com a necessidade de ténues explosões de ilusão!

Sonhadora?
Sempre!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Flor!





                               

 
 
Era já noite quando recebi a mensagem de uma amiga do Porto a pedir ajuda para uma Família!
A filha de 4 meses está doente e tinha sido transferida para o hospital Santa Marta em Lisboa. Nasceu prematura e desde então tem tido problemas graves no coração! A sua salvação passará por um transplante de outra criancinha pequenina e indefesa! Leis da vida difíceis de entender, esperar pela morte de outro ser humano tão puro e inocente para que a vida que gerámos se mantenha entre nós!
Esta é a realidade da Família Saúde! A realidade que conheci hoje e que de uma maneira tão especial me preencheu este dia de férias!
Se ontem quando recebi a mensagem já deitada no sofá pensei três vezes antes de dizer que sim, hoje a minha vontade é acordar amanhã e estar com aqueles pais!
Aqueles pais que me receberam de braços abertos e sem nunca me terem visto entraram no meu carro e confiaram! Abriram os seus corações e deixaram-se levar por mim e abraçar por Lisboa nunca antes por eles visitada!
Entre chegar e não chegar, estacionar e não estacionar foi fácil sentir os nervos e entusiasmo da mãe pois falava e falava, por seu lado, o pai sentado no banco detrás estava silencioso e tímido.
Entrámos no hospital e sinto as palpitações e uma enorme ansiedade nos dois! Percorremos os corredores, enganámo-nos no andar e nestas andanças percebemos que já todos conheciam a pequenina Flor acabadinha de chegar do Porto!
Finalmente chegamos aos cuidados intensivos! Tocamos à campainha e quando eles acham que podem entrar e ver o seu pequeno coração têm de recuar e aguentar: as visitas são às 17h00 e naquele segundo eram 16h56!
Quatro minutos com a mãe a balançar entre pernas e a tocar com os pés um no outro como chocam os carrinhos de choque! O pai bastante mais nervoso procurava um carregador de telemóvel, até que digo:
-No meu já são 17h00!
Tocam a campainha, abrem a porta e entram disparados os dois!
Cá fora, fico eu à conversa com um senhor que ia visitar a mulher operada ao coração!
Enquanto falamos penso para comigo que aceito facilmente que alguém com mais experiência de vida sofra do coração! São muitos anos, palpitações entre segundos, alegrias e tristezas, tanta coisa que um coração já com bastantes anos aguenta que percebo!
Um coração com meses de vida, pequenino do tamanho de um morango de que sofrerá? Porque será tão fraquinho? Não será logo à partida uma cruz tão grande e pesada para um corpo tão ingénuo e delicado?
Rezei! Voltei a rezar! Rezei para não pôr em causa a minha fé! Rezei para acreditar num milagre de Santa Marta! Rezei a agradecer este movimento espetacular de pessoas que em dois dias conseguiram dar esperança a esta família e conseguiram trazer a Flor de helicóptero para Lisboa e ver uma luz ao fim deste grande túnel!
Rezei, pelos médicos que lhes negaram o transporte de helicóptero mas que sob ameaça de queixa acabaram por mudar de ideias e a nossa Flor veio para Lisboa não de ambulância e buracos das estradas de Portugal mas a voar!
Enquanto tentava enquadrar esta realidade que tinha recibo há minutos na minha vida no meio das minhas férias, o pai da Flor surge apressado na porta! Tínhamos de ir falar com o assistente social para tratar do alojamento deles!
Caminhamos pelo hospital e não foram precisos muitos passos para que aquele homem, aquele coração de pai, cheio de medo de perder parte de si, desata-se a chorar! Chorou comigo, à minha frente, entre os meus braços e não me conhecia!
Naquele momento acho que o meu coração ficou ainda mais pequeno e apertado que o da Flor!
A vida é tão curta e por vezes tão dura! Que descaramento o meu cada vez que me queixo! Isto sim são dores! Isto sim são problemas e mesmo com eles este casal sorri e acredita!

Deixámos a mãe a mimar a pequenina e seguimos os dois para a Fundação Infantil Ronald McDonald! Fiquei estupefacta! Aquelas caixas perto das caixas registadoras dos restaurantes para fazermos os donativos são de louvar! Deparei-me com uma casa espetacular apenas para acolher famílias com crianças hospitalizadas! Com dez quartos, todos eles bem decorados e limpos! Duas salas igualmente giras, espaçosas e que convidam ao convívio! Uma cozinha dividida em várias para ser usada por cada duas famílias! Um terraço espetacular com uma vista tranquilizante! Esta família vai ter uma casa enquanto esperar que a sua pequenina recupere e ganhe um coração novo que a faça crescer! Esta família tem ali um porto seguro!
E ali estava eu! Conhecera aquele homem à minutos e pedia-me que o acompanha-se na visita à Fundação! Olhava para mim como uma criança quando procura no pai ou mãe um porto seguro! Com o dobro da minha idade pedia-me para fazer as perguntas por ele e sentia-lhe a ansiedade em regressar para perto da sua pequenina!
Para trás deixaram três filhos entregues aos avós! Bem no norte ficaram todos os seus suportes, todos os ombros amigos! Contam agora um com o outro numa cidade nova e desconhecida! Contam agora com a bondade e caridade de quem lhes quiser dar uma mão amiga!

Unidos nos seus sorrisos por terem visto a sua pequenina mais rosadinha! Esperançosos que a operação que manterá o coração a bater enquanto espera outro do seu tamanho corra bem! Entregues ao destino e à enorme crença que os milagres acontecem!


Acredito em milagres! Vejo pequenos milagres em todos nós que tocamos na vida dos outros com pequenos gestos e sem nos apercebermos mudamos vidas, geramos sorrisos, damos confiança e esperança! Quem sabe se todos nós não fazemos o coração da Flor bater tão depressa e tantas vezes como as asas de uma borboleta?
O milagre já está a acontecer e vamos ver até onde se estende!

Agradeço a Nossa Senhora por me ter colocado a Família Saúde no caminho! Por no meio das minhas férias entre praia, sol, copos e festejos tenha percebido a graça que tenho em ter saúde, em achar que tenho problemas que comparados com este são apenas meras estupidezes de fácil resolução!

Obrigada meu anjo da guarda por me chamares à realidade e fazeres valorizar tanto o que tenho e a sorte do dia-a-dia em que vivo! Por sentir e viver estes sentimentos tão bonitos e poderosos que me preenchem mais que qualquer outra coisa! Espero conseguir usá-los para da maneira que me for possível ajudar os outros!

Obrigada a todos os que ajudaram e continuam a fazer parte deste milagre!
São espetaculares!