quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Noite de Fados Ajudar Uma Família


Boa noite a todos!

É de coração cheio e a bater rápido que digo BOA NOITE  a todos!

Talvez com uma lágrima escondida no canto do olho e a fazer um esforço enorne para não me comover, mas a verdade é que estou muito comovida e sensibilizada por estarem todos aqui hoje!

Obrigado! Muito obrigado por hoje estarem a dar ao Ajudar Uma Família, aquilo que ninguém pode comprar, o VOSSO TEMPO!

O Ajudar uma Família começou por ser um Evento no Facebook em que inicialmente sugeri aos meus amigos que neste natal nos jantares de natal não trocássemos os presentes do amigo secreto e com dinheiro dos presentes ajudarmos uma família! Tirávamos uma fotografia de grupo e quando fossemos entregar, não o dinheiro, mas o que fizesse falta, entregávamos a fotografia de quem ofereceu.

Rapidamente os amigos aderiram, pessoas que não conhecia aderiram, a Isabel Lopo de Carvalho deu-me o contacto da Francisca Pedroso que trabalha de perto com muitas famílias do Bairro da Serafina, em Shoenstat a irmã Rosana deu-me o contacto com assistentes socias de Camarate.  O Bernado Villar criou a imagem que nos define hoje e Desde ai, e Graças a Deus não parámos de Ajudar Famílias!

Numa semana entregámos dois beliches com colchões e edredões  conseguidos euro a euro! O que é que nos diferencia? Quem ajuda com 1euros, 5euros, 100 euros, o que for, recebe sempre as fotografias da entrega daquilo que se comprou com o seu contributo, o recibo e uma pequena descrição da família e da entrega! :)

Ao mesmo tempo publicamos na nossa página do Facebook as fotografias e tem sido espectacular ver que as pessoas ao olharem, ao conhecerem as famílias através de várias imagens começam a querer ajudar, começam a oferecer roupa, bilhetes para o cinema, brinquedos, livros etc. Tem sido um dos meses mais bonitos da minha vida!

Desde os meus 5 anos que a minha irmã e eu ficámos sem pais. Uma morte nada agradável mas que fez com que fossemos viver com os meus avós para um quinta perto de Coimbra, a Graciosa. Tivemos uma vida óptima, uma educação espectacular, muitos mimos, acabámos por ganhar uns pais extraordinários e o carinho especial de uma família tão grande como a nossa. Hoje tudo o que sou devo-o aos meus avós, aos meus tios, aos meus primos que desde a altura em que era pequenina foram preenchendo o meu coração, cada um à sua maneira.

Graças a Deus somos uma família que não passa dificuldades mas não é por isso que não dou valor àquilo que tenho e não tenho. Não preciso de deixar de ter uma refeição na mesa para lhe dar valor. Sempre fui educada a dizer "tenho vontade de comer alguma coisa" do que "tenho fome", porque como a minha avó Zé dizia "Graças a Deus nunca passou fome e nem sonha o que isso é!". Fui educada a evitar o "não gosto" e a ficar na mesa o tempo que fosse preciso até acabar! Acreditem que não foi fácil, era sempre a carroça do lixo, como chamávamos lá em casa ao mais lento a almoçar ou jantar.

Sempre odiei comer e durante muito tempo andei a esconder pela casa ( que é bastante grande) todos os pães que tinha de lanchar. Nem com a casa e o seu tamanho enorme me safei, fui apanhada uma série de vezes e castigada também. Até que um dia prometi à minha avó que não o fazia mais e realmente não o fiz! Mas os pães escondidos já tinham sido tantos que um dia lá encontrou um pela casa...achou que a promessa tinha sido quebrada e que eu continuava sem dar valor ao que tantos nem sonham que existe.
Quando cheguei a casa tinha uma papa de pão com bolor e leita para lanchar! Foi comida até ao fim! Na altura chorei, roguei pragas à minha avó e devo-a ter ofendido em pensamentos... hoje percebo o desespero em que devia estar em relação ao problema Ticas e os Pães!
Agradeço-lhe imenso hoje, realmente não somos ninguém para despediçar aquilo que outros não têm!

Não quero que fiquem a pensar que a minha avó é tudo aquilo que enquanto comia a super papa de bolor fui pensando, a minha avó Zé e o Avõ Fernando sao de certeza os causadores do meu lado solidário, a origem do Ajudar Uma Família!

Desde pequena que os vejo a serem solidários, a fazerem de uma quinta uma aldeia, onde viviam caseiros, ciganos e quem precisasse. Sempre os vi a adoptarem na família como seus aqueles que mais precisavam, sempre os vi a darem o seu tempo e companhia a outros que estão sozinhos! Lembro-me que durante muitos anos no verão em São Martinho, havia um dia em que 5 ou 6 rapazes da Casa do Gaiato iam almoçar a nossa casa, na altura não percebia muito ben o porquê mas achava giro!
Os dois sempre foram muito generosos e nunca se fizeram valer do facto de serem Marquezes para se vanglorizarem ou gabarem, pelo contrário.

Um dia em Monsanto quando estava com o Manuel a descer passámos pela rua com o nome do meu avô. Estávamos a tirar uma fotografia quando do nada, uma senhora veio ter connosco e sem saber que eu era neta, a chorar diz-nos " O Senhor Marquêz não devia ter o nome numa rua, devia ter uma estátua por tudo o que fez por tantos aqui! O meu marido e eu ficámos sem nada e o Senhor Marquês vendeu-nos um terreno em troca do nosso trabalho na Quinta do Valongo. Sempre que o meu marido lá ia a casa era recebido com um pão e chouriçõ e o Senhor Marquêz só começava a falar de trabalho depois dele ter comido! Graças a ele conseguimos seguir a nossa vida!"

Isto marcou-me, deixou-me orgulhosa e ainda mais pois quando contei ao meu avô, ele na sua humildade, sentido de humor e a querer fugir ao assunto, respondeu "Era gira? Hummm Ela quer é conhecer-me!" e riu-se.

Gostava de um dia conseguir ajudar tantos desta maneira humilde, gostava de um dia com o pouco que tenho conseguir ajudar e melhorar a vida de tantos, continuar esta obra de vida que os dois me transmitiram e deixaram!

Realmente acho que com o nosso pouco conseguimos imenso para quem tem tão pouco, com um simples gesto fazemos de uma tarde normal, Natal em tantas famílias!

É bom ir a guiar no carro e chorar de alegria e euforia cada vez que recebo uma mensagem a dizer "quero doar", "quero ajudar", "tenho roupas" etc., ainda somos muitos a querer ajudar, ainda somos muitos a acreditar, a confiar, a agir! Quando queremos alguma coisa não há crise que nos derrube e conseguimos todos juntos coisas espectaculares!

Este mês tem sido um dos melhores da minha vida graças a todos vocês que contribuíram para que , já algumas famílias tenham recebido bastantes mimos. Venham, experimentem vir entregar, convido todos a virem dar um sorriso a estas famílias, a ver a alegria e entusiasmo com que somos recebidos em cada casa! As saudades com que ficam depois de sairem, a vontade de lá voltar para dar mais um mimo, para oferecer outra coisa, para levar lanternas e luz, para ver que realmente aquilo que já tinhamos entregue antes está agora a dar frutos!

Tem sido único, inesperado e principalmente muito muito bonito!

Quero hoje agradecer a todos os fadistas que prontamente ofereceram a voz para Ajudar Uma Fanília, aos guitarristas que os acompanham. À Joca Metalomecânica que ofereceu os vinhos, ao Sector Mais que ofereceu os refrigerantes e cerveja, ao Gente Divertida Catering que ofereceu as sobremesas e ao Aerlis café que ofereceu os cafés.
Ao Pedro Ferreira de Carvalho a quem sugeri uns fadinhos e tornou esta noite possível!MUITO OBRIGADO!

Obrigado a todos os que tornaram esta noite possível, não só os que estão vivos e entre nós mas também aqueles que me acompanham sempre estejam onde estiverem.

Obrigado por fazerem de mim e de tantas famílias mais felizes, acreditem que estão nos nossos corações!

E como o fado diz "É tão bom ser pequenino, ter pai ter mãe ter avós, ter esperança no destino e ter quem goste de nós!

BORA TER ESPERANÇA NO DESTINO E AJUDAR UMA FAMÍLIA! venham os fados!

Ticas Graciosa 14-12-2011