terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Mãe que fugiu!


Ser mãe deve ser das coisas mais complexas de sempre!
 Talvez a profissão para a qual não há mestrados nem livros que ensinem como e o que se deve fazer! Ser mãe não dá para dizer Times Up, ir passear e voltar! Exige que cada dia seja uma aula e nem nestas se permite intevalos!
Acredito que passados anos muitas mães desejam voltar a tê-los dentro de si! Seguros e sossegadinho no seu cólo. Protegidos de tudo e acarinhados com um sorriso e grito de entusiamo por cada pontapé.
É uma vida a dizer não, e dizer não nem sempre deve ser fácil tal como ouvir o nosso "não posso estar", "não consigo ir", "não posso jantar hoje", deve ser um pontapé amargo na barriga de saudades de quando nos podiam ter ali porque sim. As mães vão-nos vendo crescer de mansinho e sem darem por isso também nos vão largando de mansinho. De mansinho vão-nos deixando ter a nossa vida, o nosso tecto...de mansinho também nos começam a ouvir dizer a outros, não!
Dão o colo aos filhos, a segurança de que acontença o que acontecer aquele colo estará sempre ali pronto para acolher tudo o que vier.
As mulheres enquanto mães são admiráveis, correm o mundo e se for preciso abraçam a lua para terem o melhor para os seus corações ainda pequenos e inofensivos! Transcendem-se para que o não se torne sim! Para que o preto se torne colorido!

Hoje uma mãe das famílias que ajudamos não desapareceu com os filhos, fugiu!
Hoje ao fim de anos de uma vida de nódoas negras e silencios massacrantes esta mãe conseguiu dar um pontapé a esta vida e fugir!
Não fugiu por ela, não se fartou de ter o corpo como objecto de fúria de todos os monstros e tormentos criados pelo álcool e recriados em si pelas mãos e pés do seu marido!
Não foi esse hábito que a fez pegar em tudo e ir... o que a fez sair dali foram os seus filhos! Foi o amor de mãe que não suportou, não tolerou, não permitiu ver os seus perdessem o sorriso e brilho de crianças ingénuas e livres de preocupações!
Foi o milagroso amor de mãe que pobre e sem nada a fez confiar  e apostar no seu coração como porto seguro e trocá-lo pelas quatro paredes onde vivia uma guerra silenciosa impossivel de vencer sozinha!
Hoje uma mãe contra tudo e todos arranjou forças e fugiu! Espero que para bem longe onde consiga dar paz e sossego aos seus corações! Espero que para um sitio onde o cólo que dá aos seus já não seja sinónimo de terror e medo mas paz e mimo! Onde cada dia é um dia e não se deseja que passe rápido! Onde os gritos que ouvirem sejam apenas restos de pesadelos do passado e as lágrimas que deitem sejam das saudades de amigos deixados para trás e lembranças boas!

Admiro esta mãe! Admiro toda a sua coragem!
Repugnam-me todas as pessoas que ao lado daquelas paredes ouviam e nada faziam! Desespero com a facilidade com que também eu quando há poucos dias soube, disse que era normal e que nada se podia fazer...
MENTIRA! Pode-se fazer, pode-se ajudar! Há-de ser muito complicado meter a colher entre marido e mulher!
Mas não será mais complicado viver o resto de uma vida com o peso na consciência daquilo que se soube, que se viu, que se sentiu e não se fez?
Não será mais aterrador e mortifero calar dentro de cada um a memória de várias queixas ignoradas? De fingir que não se viu? Não será desesperante relembrar o quanto se banalizou as marcas e gritos por puro comodismo e gestão de aparências?
É sem dúvida mais fácil ser comodista e dar uma atenção ao de leve ao assunto. Escrever umas cartas, fazer uns telefonemas... Fingir que nada se passou e que são teimas e exagero de quem desesperadamente pediu socorro!

Infelizmente as teimas rapidamente viram remorsos,  surgem falsos sentimentalismos resultantes de toda a inércia vivida perante tudo. A culpa de um lar desfeito pelo que podia ter sido e não se fez vai aparecendo muito disfarçada e camuflada! O exagero antes ignorado passa a realidade quando o cólo que aquelas crianças pedem e querem já não é o que vão ter!

Rezo e orgulho-me de todas as mães que fizeram e conseguiram salvar os seus filhos!
Peço a Nossa Senhora que pegue em todas as que não conseguiram ganhar a guerra vivida em quatro paredes e lhes dê o colo merecido!
Peço desculpa por não conseguir perdoar todos aqueles que mesmo sabendo e estando perto nada ou pouco fizeram e se vão camuflando entre o silêncio dos erros e desculpas nada nobres! Peço desculpa, mas nós crianças também recordamos, sentimos e não esquecemos! O vosso silêncio não vos tira a culpa da ausência!

Ainda bem que esta mãe fugiu!
Ainda bem que o seu pedido de socorro foi ouvido e que com a sua força e amor hoje adormece a ver o céu e não é mais uma das estrelas que brilha e olha por nós!