quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ainda há quem fuja da Melanina!

Ontem deparei-me com uma coisa que acreditava já não existir de uma maneira tão descarada!

À espera do elevador carrego para subir. Ao meu lado estava um senhor dos seus quarenta anos e uma senhora que estava a fazer o seu trabalho nas limpezas. A diferença entre um e o outro é que o homem bem composto é branco e a senhora das limpezas é preta!
 Entre eles estava eu, branquinha com pintas castanhas!

Reparo que a Senhora carrega para descer e quando o elevador que desce chega entra e desce sozinha. Chega o elevador que vai subir, supus que fosse o "nosso", meu e do homem branco! Apercebo-me que o homem branco carrega novamente nos botões mas para descer!
Afinal o elevador para subir não era o "nosso", era apenas  meu! O Senhor bem composto também ia descer, podia ter descido com a Senhora das limpezas que chegou depois dele mas preferiu não o fazer! Preferiu não descer com a senhora simples e simpática mas para ele, preta!
Sorte a dela, se for como eu que odeio as conversas de treta de elevador sobre o tempo e a crise, acabou por se safar e ter o elevador só para ela!

Fiquei petrificada e engoli em seco! O racismo existe entre brancos e pretos, pretos e mulatos etc! Existe de várias formas e expressa-se de várias formas, MAS AINDA DESTA MANEIRA?



Que se digam piadas, que se brinque com todas as raças, acho razoável e por vezes até saudável! Temos que ser e saber ser os primeiros a gozar connosco próprios, é sinal de maturidade, de gozo e que nos conseguimos divertir connosco e dar a outros a oportunidade de com a nossa segurança se rirem de nós e connosco.
Quando não nos conseguimos rir de nós próprios é porque ainda não gostamos mesmo de nós, ainda somos inseguros e frágeis e talvez por isso mais susceptiveis e vulneráveis!

Nunca me esqueço de uma noite no Algarve em casa de uma amiga, estarmos em grupo a jogar às cartas e termos que criar uma regra quanda saia determinada carta.
A regra que disse, com um amigo preto também a jogar, foi para falarmos todos à preto durante o jogo! Depois de o dizer e me aperceber fiquei sem saber onde me enfiar e quem desmistificou tudo foi ele, que a rir-se e descontraído disse-nos que para ele ia ser fácil, fácil! O jogo continuou, a noite foi divertida e animada! Não houve racismo, não houve espaço para preconceito porque tudo depende da maneira e sentimento com que se dizem as coisas! Da naturalidade com que tanto se imita um alentejano a falar como se tenta imitar um preto ou brasileiro.

Com os pretinhos que ajudo também sou a branquelas, a branca e eles os meus pretinhos. Não me sinto ofendida e eles também não. Mas eu, como branca às pintas castanhas, não tenho um passado na história de escravidão e racismo! Não tenho na minha história de branca às pintinhas discriminação nas escolas, trabalho, amigos etc.! É mais fácil para mim não me ofender porque a história e o Homem tendeu durante muito tempo a classificar a raça branca como a elite e nunca como origem de vergonha ou embaraço!

Isso foram outros tempos, outras épocas! Agora as mentalidades são outras e por isso mesmo, fez-me confusão constactar que ainda há pessoas que se recusam a entrar num elevador com alguém que apresenta grande produção e quantidade de melanina (proteína presente na 1ª camada da pele e que lhe dá cor ). É a pele dos negros e mulatos. Que também tem mais mais glândulas sudoríporas e estas causam suor abundante e odor mais concentrado! Ao que correntemente apelidamos de "cheiro a catinga"! Para muitos ainda hoje estes não são pessoas, ou até podem ser mas "diferentes de nós".


O engraçado é que, quando estas peles carregadas de valentes doses de melanina vestem uma bata branca de médicos que salvam a vida de um filho, vestem um fato de advogado que nos defende bem e ganha a causa etc., quando isto acontece, estas pessoas já deixam de ser apenas peles com quantidades exageradas de melanina e passam a ser o que sempre foram: pessoas!


Sofremos de um egoismo enorme cada vez que descriminamos alguém pela sua pele, pela sua etnia, pelo que não tem e preferimos enaltecer e previligiar o Ter/Parecer para desvalorizamos o SER!

Somos todos feitos do mesmo! Com imensas diferenças, com imensos defeitos, com imensas virtudes, culturas e hábitos completamente diferentes, mas somos todos PESSOAS!
Não temos todos que ser os melhores amigos. Não temos todos que conviver uns com os outros porque também nós somos livres de nos identificarmos mais com umas pessoas que outras. De nos conseguirmos entender ou não, com certos costumes e culturas.

Não temos que gostar de todos os seres mas acho que tdeviamos ter todos o respeito e dever de entrar num elevador quer esteja uma pessoa branca às pintas castanhas, preta como o carvão, castanha como o leite de chocolate ou branca como a neve!



Ninguém nasce a odiar outra pessoa pela cor da sua pela, pela sua origem ou ainda pela sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." Nelson Mandela