quarta-feira, 24 de julho de 2013

Um ou Dois?


- Um ou dois?
- Se dás um, dá sempre um!



Fui educada e cresci a dar um beijinho. Adquiri como hábito que o normal é dar apenas um e só um beijinho.
A minha avó costumava reclamar, não com o número de beijinhos que achava ser causa das novelas brasileiras mas com a forma como este era dado. Não suportava receber beijinhos de pessoas despenteadas, pois não tinha que estar a dar beijinhos em cabelo mas sim nas caras. O dar um beijinho não era apenas encostar a cara à outra pessoa, era dar um beijinho com os beiços na boceja.
Hoje percebo-a e cada vez que estou despenteada e vou falar a alguém parece que toca um sino de alerta na minha cabeça e automaticamente dou por mim a verificar rapidamente se tenho ou não cabelos à frente da cara! Da mesma maneira que reparo imenso na forma como as pessoas me dão um beijinho e sem se aperceberem me dizem logo tanto ou tão pouco delas.

Não sei se sempre existiram pessoas a darem um beijinho e outras dois, não faço ideia se os dois beijinhos surgiram de uma moda trazida pelas novelas brasileiras ou  por antepassados que já o faziam. Não sei e nem tenho muito interesse em pesquisar sobre isso porque não é isso que me define. Não é isso que torna os amigos que tenho que dão dois beijinhos melhores ou piores dos que dão apenas um!
Interessa-me o interior, o fundo, a essência das pessoas!

- Um ou dois?

Independentemente de saber que dou um beijinho porque é a minha educação não consigo deixar de ter consideração por quem sei que poderá dar dois.
A possibilidade de existir o momento em que poderei deixar alguém que me quer cumprimentar pendurado deixa-me nervosa. Ver o incómodo do outro com a cara disparada em modo looping para voltar ao sítio rapidamente, ao mesmo tempo que tento apanhar o fim do looping para dar o segundo e salvar o embaraço mas que muitas das vezes acaba por resultar em desencontros, caras coradas, e um embaraço ainda maior! 
Apoquenta-me a sensação de causar desconforto àquela pessoa e apenas por um beijinho elementar, o do “Olá”!

- Um ou dois?
- Se dás um, dá sempre um!

Não consigo concordar com esta resposta! Cada um tem o direito de se afirmar e manter uma determinada postura e costumes mas será incorreto e estaremos a fugir tanto à nossa essência, se nestas circunstâncias em vez de um dermos dois?

Afinal, cada um de nós vale pelo seu interior, pela sua integridade, pelos seus valores e princípios e não será a pequena distância entre um beijinho e dois beijinhos que nos tornará melhores ou piores!

- Um ou dois?
- Dá os que quiseres e recebe aqueles com que te sentires bem, nunca deixes é de dar!

Resumindo e baralhando, sei que dou um beijinho mas não me importo de dar e receber o dobro do meu normal se isso fizer com que alguém chegue, permaneça e saia de ao pé de mim melhor e mais feliz sem loopings.

O resto?

Madre Teresa de Calcutá responde-nos:

"- Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las."