segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um ano de descobertas, a mais extraordinária de todas...o Amor!


Querida avó Zé do meu coração:

Aqui estou eu mais uma vez a escrever no papel o que me vai no coração… e mais uma vez sobre o que o meu coração bate por si.

Já passou um ano desde a última vez que a vi, que estivemos juntas no hospital e talvez já a avó sentisse e soubesse que dali não sairia mas nem por isso a vi desistir ou a dar parte fraca, pelo contrário! Ali estava, contente por nos ver, contente por receber as cartas que o avô lhe mandava por nós, óptima de cabeça e muito mimada por todos.
Sussurro-lhe hoje aqui, que muitas vezes dou por mim a chorar e é um misto de tristeza e raiva de mim mesma, por não ter estado lá quando a avó foi ter com os meus pais, com o tio Francisco, com os seus pais, irmãs e amigos. Muitas vezes dou comigo a sofrer por não saber se teve uma mão amiga ali consigo a confortá-la e que eu gostava de ter dado essa mão…senti muitas vezes neste ano esta aflição no meu coração! Hoje acredito que a avó nos deixou na melhor companhia, acredito que todos aqueles com quem está agora estavam consigo e acredito principalmente que Nossa Senhora nunca a deixaria e lhe esteve a dar a mão como sempre nos deu nas nossas vidas.
Desde pequena que sentia e dizia que tinha três mães, a minha mãe João, a avó Zé que me criou e Nossa Senhora que me as pôs no caminho e foi zelando por todas. Tenho as minhas mães juntas no céu a olharem por mim e pela Sofia e acredito que tanto a mãe João como Nossa Senhora lhe estão gratas, como eu estou, pela sua enorme dedicação como mãe inesperada que teve de ser.
Se já me habituei a tê-las às três noutro sítio que não ao pé de mim?
Ainda não, e não sei se algum dia me habituarei, penso que irei aprendendo a aceitar e a lidar com as imensas saudades. Tem sido um ano de descoberta, um ano em que de diferentes maneiras vou sentido a sua falta. Têm sido várias as vezes em que antes de adormecer dou por mim a pensar no que é que a avó me diria? O que é que a avó faria? Que contente que ficava se soubesse disto… E  para matar um bocadinho as saudades ligo para o seu telemóvel, por alguns segundos ouço a sua voz e recordo a tarde de São Martinho, em que juntas a gravámos! Rapidamente me apercebo que o som da sua voz a dizer “ Ligou para a Zé Raposo por favor deixe a sua mensagem. Obrigado” não chega para preencher o meu coração saudoso… aí começo a fazer o que me pediu e deixo-lhe a minha mensagem, conversamos as duas, lembro-me de tantas coisas boas que vivemos juntas, vão aparecendo as más porque também existiram mas realmente as boas sobressaem e vão-me confortando o coração.
Quando fui para a Graciosa lembro-me que passado uns anos chorava à noite com saudades dos pais, lembro-me dos mimos que a avó me dava quando, ao ir ao nosso quarto dar-nos um beijinho de boa noite se apercebia. Agora não a tenho aqui para me dar mimos e mesmo já sendo mais velha, muitas vezes me sinto pequenina mas uma pequenina que chora e percebe que as lágrimas se caem pelo rosto é porque a avó deixou marcas, é sinal que realmente foi mais que a minha avó Zézinha, foi minha mãe!

Quer saber o que neste ano fui descobrindo e só o consegui consigo?
Descobri o que é o verdadeiro amor! Muitas vezes lhe disse que a adorava e que a tinha sempre no coração, sem saber enganei-me e enganei-a também, eu não a adoro eu AMO-A!
Foi preciso um ano de acontecimentos e saudades para descobrir que realmente nunca tinha sentido isto. Vi que realmente alguma coisa mais do que gostar nos unia, vi que quando realmente se AMA, quando realmente se sente o verdadeiro amor conseguimos ouvir e aceitar as críticas, verdadeiras ou não, porque o que nos interessa é o que o nosso coração sente e o meu coração sente um enorme amor pela avó e por tudo o que vivemos juntas, bom e mau! Não preciso de lhe perdoar nada porque o meu coração fá-lo por mim. Acredito que o Amor, tal como a fé, é uma dádiva de Deus! E a Fé cada um a tem e sente à sua maneira, cada um a demonstra e vive de maneira singular. Agradeço a forma como vivi a avó, como a conheci e a vida que me deu. Agradeço-lhe por através de si avó Zézinha ter descoberto e sentido este sentimento tão bonito que é o Amor e que por muito que tente não consigo explicá-lo em palavras. Sinto-o!
Como o senti e Vivi, pois fiz parte desta Grande história de amor que é a do avô Fernando e da Avó Zé, fiz eu e todos nós!

Querida avó o seu Fernando continua um valente, sente saudades suas de uma maneira que nem a palavra Saudade consegue demonstrar!  Como me diz muitas vezes Vê a avó em todo o lado e acredito que em tudo lhe faz uma falta enorme.
Os filhos, netos, irmãos e amigos têm tentado substituir o que realmente por muito que tentemos e queiramos é insubstituível pois como a avó me dizia a rir “Em morrendo a macaca acabou-se a comédia!”
É verdade, a peça ficou sem a macaca, o palco tem saudades mas continua em pé, os actores continuam a ensaiar, cada um o seu papel, cada um à sua maneira, cada um a descobrir e a aceitar a personagem que esta nova peça lhes pede! Cada um à sua maneira tem tentado encontrar a comédia nesta peça que é a vida! Há que louvar e agradecer ao público amigo que nos apoia e aplaude, sempre que um de nós se esquece que para ser comédia há que rir e fazer rir!
Os avós deram-nos um palco já com um belo cenário montado. Cabe-nos a nós, TODOS JUNTOS E UNIDOS continuarmos a comédia. Cabe-nos a nós, Raposinhos Graciosas honrar  todos os Pai Nossos que os avós rezaram de mãos dadas para que, dentro das nossas diferenças, fossemos todos AMIGOS! Pois só juntos e unidos vamos conseguir passar todas as cenas que Deus vai acrescentando à nossa comédia, JUNTOS e UNIDOS somos e conseguimos mais, JUNTOS E UNIDOS damos uma enorme alegria e descanso a esta nossa mãe!

Aqui lhe deixo um enorme beijinho carregadinho de saudades!

Ticas

12-11-2011