quinta-feira, 24 de julho de 2014

As coisas boas da vida não são coisas!

As coisas boas da vida não são coisas!

Na semana passada fomos para a Graciosa, a primeira vez já como marido e mulher, festejar os 90 anos do meu avô Fernando.
Quis escrever sobre ele, sobre este dia e uma vida tão cheia de tudo mas até hoje não consegui parar e rever com calma o momento.
Nesse dia entre família aplaudimos o apagar de 90 velas, passado horas e numa correria enorme estávamos em Mora a dançar o “Aperta aperta com ela” e gritar “Viva os noivos!” no casamento da Inês e Gonçalo.
Foi um fim de semana cheio de emoções e sentimentos bons. Tão bons que no meio do corrupio pareceram difíceis de assimilar. (Tive uma pequena amostra do que são os natais passados na estrada de um lado para o outro entre famílias.)
Acabei por não presenciar o discurso do meu avô mas ouvi-o emocionada em vídeo.
Que exemplo! Que Senhor! Que coração! Que vida!
Como disse, o tempo não anda para trás, anda para a frente e 90 anos assim não são velhice! Teve sofrimentos terríveis, mas a vida é assim e mesmo com estas coisas, repetia os 90 anos outra vez porque foram 90 anos em que foi muito feliz!
Quem me dera ser só um bocadinho pequenino do que ele é! Quem me dera que parte do coração gigante e bondoso dele fosse meu também! Quem me dera que a minha vida gerasse tanto amor e alegria como ele cria em seu torno. Gostava de ter sempre uma palavra atenciosa e bem humorada para quem chega como ele tem naturalmente. Adorava, um dia chegar aos 90 tão bem cuidada e mimada, apagar tantas velas em casa e na companhia dos que me amam!

Enquanto andamos neste frenezim bom de festas e casamentos fim-de-semana sim, fim-de-semana sim ,há famílias que perdem quem amam. Há dúvida na vida e no sentido de voltar a sorrir quando quem queremos não mais está cá. Sofrimento na saudade eterna de quem tanto queremos perto de nós. Angústia e dor de não conseguirmos mexer e remexer no tempo e aquilo que seria um amanhã, cheio de projetos e sorrisos, transforma-se lentamente num mapa de recordações. A vida e a sua fragilidade assustam-me...agarro e aperto o Manel.
Relembro um artigo que li há uns dias em que o autor sugeria que se deveria ter um caixão à porta de casa para todos os dias nos lembrarmos que a vida é uma dádiva e a morte uma certeza. Achava ele que talvez assim, o dia-a-dia das pessoas fosse encarado de outra forma e que cada vez que saíssemos de casa de manhã dêssemos o valor real ao dia, ao momento.
Dispenso a parte mórbida mas aceito a ideia.
Não precisamos de caixões...golpes como a morte de alguém que amamos tiram-nos o chão, trocam o certo pelo incerto e mostram-nos o quão pequenos somos, o quão rápido nos pode fugir a vida. 

As coisas boas da vida não são coisas!
São pessoas, são momentos, são sorrisos e abraços, gestos e atitudes.
As coisas boas da vida permanecem e viajam no tempo, não estão no carimbo do passaporte nem em palavras, voam connosco e sem darmos conta são elas que nos fazem bater asas, voar em céu seguro e saber que quando nos cansarmos temos quem nos ampare.

90 anos, cheios de tudo mas sobretudo com muita garra, amor e festejo da vida, traga ela os golpes que trouxer.
90 anos ,em que 70 e muitos foram de mãos dadas com quem amava.
90 anos com imensa Fé!
É esta garra e amor que peço para todos os que sofrem!
É este amor tão único e bonito que desejo a todas as famílias!

Fé, que as coisas boas da vida não são coisas!