sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sejam Parvos! ;)

Há uns meses para cá que ando estranha... Ando a sentir demasiada e efusivamente as coisas. Tanto grito umas palavras soltas e roucas que aos meus ouvidos soam como um canto, como choro de lágrimas gordinhas daquelas que molham folhas como gotas de chuva!

Há uns meses para cá que posso dizer que ando mais feliz, há uns meses para cá que SINTO! Que não me limito a passar pelas coisas, pelas pessoas , pelas situações! Há uns meses para cá o que faço é com o coração e sendo com o coração acaba ele também por me tocar e tomar conta de mim.

Descobri que não são as minhas hormonas que andam desreguladas e por isso não são elas que me fazem ter borboletas e remoinhos na barriga. Descobri que as lágrimas que caiem são de felicidade, que os arrepios e sorrisos rasgados que tenho não são porque estou maluca, devem-se ao simples facto de deixar o coração bater, de lhe dar o devido espaço e valor merecido!

Sentir é estranho, sentir é inato! Não controlamos o que, quando e como sentimos. Está em nós, corre-nos no sangue, preenche-nos o corpo e alimenta-nos a alma!
Um sentimento reprimido faz com que o coração fique apertado e um coração apertado é como um prisioneiro na cela! Vive constantemente ansioso por liberdade mas sabe que tão cedo não a poderá ter! Quando finalmente a tem, quando consegue aquilo pelo qual tanto esperou e desesperou, tem medo! Tem medo da liberdade que o espera! Tem medo dos contratempos que terá, dos olhares, da insegurança e incerteza! Tem medo da rejeição, de se entregar e perder, de se mostrar e ser julgado! Tem medo!

Nós não estamos presos mas às vezes fazemos pior, somos os arquitectos da nossa própria cela! Construímos a nossa torre, como nos contos, e não nos permitimos SENTIR! Preferimos ficar pelo mais cómodo, pelo que pouco trabalho dará, pelo que sabemos ou achamos que conseguimos controlar.

Porque SENTIR implica sairmos do nosso conforto, sentir põe-nos à prova em todos os aspectos e sentidos! SENTIR faz-nos irracionais e parvos! Mas digo-vos que prefiro ser parva todos os dias e viver a parvoíce de explodir de alegria, chorar de raiva, saudades e felicidade, cantar de apaixonada que estou, falar com um sem abrigo e não ter "vergonha", sentir borboletas na barriga e adormecer cada dia de maneira diferente, do que viver qual máquina formatada para fazer e sentir todos os dias a mesma coisa!

Há que sentir! Há que odiar para saber o que é amar! Há que rejeitar e ser rejeitado para se dar valor ao Ter! Há que DAR para saber o quão bom é receber! Há que chorar para quando sorrirmos o façamos às gargalhadas! Há que ter saudades para dar valor ao Agora! Há que dar a outros uma parte de nós para sabermos o valor dos que temos ao nosso lado! Há que perder para saber viver o que ainda se Tem! Há que ter o coração apertadinho e pequenino para que, quando este se encher e ficar gigante consigamos perceber o quão realmente bonito e extraordinário é isto do amor! Do amor em toda a sua plenitude e em todas as suas vertentes! O amor à família, aos amigos, o amor ao nosso mais que tudo, o amor ao próximo!

SINTAM! VIVAM!  Façam por sentir esta vida que é a nossa e não se repete! É AGORA que a podemos Sentir!

Larguem os vosso medos e sejam parvos todos os dias! Vai valer a pena!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Volta General e tráz bengalas!

Já não somos um exército, somos soldados a tentar imitar e mal o que foi um grande General!

Somos soldados individualistas, a querer conquistar tudo, a querer guardar o máximo de armas possíveis e munições para a guerra! Mesmo quando não existe nem se avista qualquer guerra, a não ser a da vida!

A guerra da vida que a muitos implica ganância, egoísmo, o querer ter por ter! O não conseguir ver os outros terem, se os outros têm é sinal que eu podia ter tido e não tenho, por isso então há que ter inveja. Há que não querer que o outro tenha mais do que o que tem! Há que querer ter vida de rei quando servente apenas sou e ficar corroído de inveja sempre que outro tem!

Por isso, a nova filosofia deste servente é de que quando tenho, tranco tudo para só eu usar, guardo todos os mantimentos comigo e levo a chave para que mais ninguém se alimente daquilo que é meu! 
Levo a chave de uma porta que não me pertence! Porque quero, porque a inveja, o querer, a ambição desmedida me faz ser assim egoísta! A chave vai comigo e com ela o meu  corpo pobre de espírito!
Este meu vazio de valores faz com que eu sinta que assim, com essa chave, com atitudes menos dignas talvez me vejam não como um mero servente mas como o General! O General da Chave!

Pobre deste servente que acha que uma chave lhe dará o poder. Talvez durante horas terá o poder nalguma coisa e se possa sentir alguém e o seu espírito se alimente de coisas podres e tenha uma fusão de sentimentos a saltarem-lhe no Ego!

As coisas podres duram pouco e passado algum tempo cheiram mal e como tudo o que cheira mal quando ingerido causa indisposição!

Quem quer passar de servente a General sem ter passado por soldado, sem saber o que é um exército, sem conseguir perceber que num exército quando um se magoa o outro está lá para ajudar! Quando um soldado está mais enfraquecido se calhar tem direito a mais pão do que um que está bem fisicamente! Que um soldado mesmo coxo com uma bengala consegue cozinhar, consegue curar os outros, consegue nem que seja conversar e dar alento!

Quando um soldado fica a pensar que o outro, só porque é manco de uma perna vai combater menos e comer mais é porque nem merece ir para a guerra! Não sabe dar valor ao que tem, a ânsia de ter mais e mais e só para ele, é maior que o companheirismo e espírito de entreajuda! 
O soldado que pensa e age assim, no fim da guerra, se sobreviver é o primeiro a cair! Não porque os outros lhe voltam as costas mas porque os outros sempre fizeram pela vida deles, sempre combateram e lutaram por eles e pelos outros! Feridos, magoados, revoltados, tristes vão conseguir seguir em frente porque com eles nunca levaram uma chave! Nunca trancaram nada e sempre partilharam!

Este servente que por vezes acha que é soldado e sonha que é General, um dia vai perceber que optou por viver a tentar controlar a vida dos outros e a fazer com que estes não tivessem mais do que ele! Nesse dia vai perceber, que os outros viveram a vida deles, com menos ou com mais, viveram a vida deles! Com ajudas ou sem ajudas conseguiram fazer alguma coisa por eles! Que com mais ou menos saúde mal o sol nascia estavam prontos e entregavam-se ao que faziam! 

Vai perceber que Nunca o General em vida tiraria o apoio àqueles a quem em tempos sempre deu! Nunca o General em vida permitia que um dos seus soldados andasse coxo sem bengala quando ele tinha mil bengalas para lhe dar! Nunca o General em vida permitia que lhe tirassem o poder e que um simples soldado ou servente tomasse as rédeas do exército! Nunca o General permitia que os seus soldados não o olhassem nos olhos para o informarem das noticias boas como das baixas e necessidades!

Tal desordem seria o fim de guerra, tal desordem seria a morte de todo o exercito e seria uma morte sem brio, sem valentia, sem dignidade! Seria a morte de um futuro promissor exército, poderoso e unido que não morreu na luta digna simplesmente acabou por deserdar pois já não acreditava na causa nem no líder!

Não conseguimos voltar a ter o General que admiramos e respeitamos mas podemos pelo menos tentar que os soldados feridos e coxos tenham as bengalas que precisem e se continuem a sentir parte do exército! Seja a combaterem, seja a serem simplesmente pais e a estarem em casa com as famílias, seja a por as cartas no correio, seja a serem apenas eles soldados, feridos ou não, são o exército!

Num exército o General só é enterrado vivo se os soldados deixarem e nós não vamos deixar! Nós não queremos deserdar, queremos criar e inovar e se possivel evitar a guerra mas sabemos que com ou sem guerra o general sem os soldados não existe e os soldados sem os serventes também não! Se cada um estiver no seu lugar, se cada um se respeitar e for digno do que é e faz, se pensarmos no NÓS todos marchamos no mesmo sentido e de sorriso na cara!

Haja alguma coisa que nos una a todos, haja algo de bonito e transparente pois onde há transparência há verdade e com verdade tudo se constrói, tudo anda para a frente e muitas guerras se evitam!

Haja exército!Hajam bengalas nas mãos de quem permite que estas sejam usadas para alguém ser mais e melhor!Hajam bengalas nas mãos de espíritos abertos e e corações amigos!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aquele Abraço!

Não sei como vos hei-de explicar o que sinto e que desde ontem me tem acompanhado! Foi sem dúvida aquele abraço que me marcou, depois de quase me partir os ossos tal foi a força e intensidade com que foi dado ,chegou-me ao coração e teima em não sair! Aquele abraço está em mim, fez-me sentir um turbilhão de sentimentos e emoções! Fez-me deitar uma lágrima ontem à noite, adormecer a pensar nele e a acordar e por a música bem alto no carro e cantar de felicidade e entusiasmo!

Dei por mim ainda a sentir a força daquele abraço, a recordar o sorriso com que foi dado e percebi que aquele abraço me deu garra, coragem e a motivação que precisava e que se calhar há muito não recebia! Aquele abraço chegou e ficou no meu coração, está nos meus pensamentos, está nas minhas ideias e continua a apertar-me as costelas e todos os ossos que tenho até ao pescoço! Aquele abraço fez-me lembrar os que dava à minha avó que eram de tal maneira fortes que só acabavam quando me dizia "Olhe que me parte o pescoço!".

Aquele abraço foi um abraço diferente mas tão especial, tão apertadinho, tão sentido! Aquele abraço foi-me dado por um "pretinho"! Aquele pretinho com os seus seis ou oito anos viu-me duas vezes quando através do Ajudar Uma Família fomos entregar um esquentador , frigorífico e brinquedos!
Aquele "pretinho" faz parte de uma família de cinco irmãos e a irmã de 11 anos morreu no dia de Natal. Aquele "pretinho" e os irmãos ainda acham que é uma brincadeira da mãe, que isso não aconteceu e a irmã vai deixar de ser só a fotografia que têm na sala e um dia vai aparecer para voltarem a brincar! Ou acham que vão acordar de manhã e ela está a dormir na cama dela! Este "pretinho" e os irmãos estão mais tristes e cabisbaixos do que há 1 mês atrás quando lá fui mas continuam a sorrir!

Continuam a querer estudar e ser alguém na vida! Quando chegámos o mais velho estava a ajudar um dos mais novos a estudar e mesmo com a entrega dos bilhetes para o Jardim Zoológico entre outros brinquedos, não tiraram os olhos dos livros! Este "pretinho" mais velho está na fase de entrar nos grupos de rua, de passar tempo sem nada de útil para fazer. De óptimo aluno passou para um aluno com mais negativas que positivas e  agora tem uma cara triste e virada para dentro! A mãe pediu-nos ajuda, queria que ele fosse alguém e que estudasse para vir a ter uma vida melhor do que a que ela lhe proporciona! Decidimos então que uma vez por semana o "pretinho" mais velho vai ter explicações comigo pelo menos a três disciplinas! Caso melhor as notas como prémio irão todos montar a cavalo e ter um dia no campo! Acredito que vamos conseguir, acredito que este "pretinho" que apenas com 14 anos protege a mãe e ajuda a educar os irmãos vai vingar e ser alguém na vida, JÁ o É! Pode ainda não se ter apercebido mas devagar irá perceber que tem um potencial enorme! Todos temos!

Assistimos a um teatro de fantoches inesperado e inventado na hora pelos "pretinhos" mais novos, fizemos magia com um jogo e chegou a hora de nos irmos embora...foi aí que recebi Aquele Abraço que ainda me acompanha hoje enquanto escrevo isto!

Foi ai que aquele "pretinho" me agarrou e apertou com tanta tanta força, com tanta vontade que ao mesmo tempo que lhe dizia "Assim vou emagrecer uns quantos centímetros" o que me apetecia dizer era "Não descoles que está a saber tão bem!".

Ainda nos rimos todos e da boca do querido "pretinho" saíram  palavras que me tocaram " - Mãe vou com a Ticas!" . Bem sei que foram ditas como todas as crianças a quem oferecermos chocolates ou rebuçados. Querem sempre ir de onde vem a diversão e os presentes. Mesmo estando consciente disso fiquei contente e tocou-me no coração! É bom ver que já não sou uma simples pessoa que através da ajuda de tantos lhes vai entregar mimos. Mas mais do estas palavras, aquele abraço tão querido, tão sentido, tão ingénuo e livre de tudo sensibilizou-me e encheu-me de tudo o que podemos ter de bom! Foi uma overdose de sentimentos puros!

Não o levei comigo mas um dia hei-de o levar a ele e aos irmãos, e a mais famílias a montarem a cavalo, ao teatro, à Torre de Belém, ao Palácio de Sintra, a um Centro de Pessoas com Deficiência, a um Lar de Idosos e a tudo o que conseguir que sirva para eles abrirem horizontes, aprenderem e perceberem que têm um mundo para conquistar e uma vida para viver!

Mais bonito seria se não fosse só eu, se fosses tu, se fossem eles, se fossemos todos NÓS! Bonito seria que todos nós largássemos os nossos medos, as nossas prisões e nos aventurássemos nisto de ajudar alguém. Extraordinário seria todos alinharmos nisto de nos deixarmos marcar e tocar pelo outro e conseguirmos retribuir não só com donativos mas o que de melhor temos para dar, o nosso coração!
Já Madre Teresa de Calcutá o dizia " A todos os que sofrem e estão sós, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração."

Talvez por isso eu os chame de "pretinhos" sem discriminação, sem qualquer desrespeito, digo "pretinhos" do fundo do coração, digo "pretinhos" como entre namorados se tratam por " baby, gorda, xuxu "etc. O que interessa é o que vai no coração, é o que sentimos e o que fazemos com isso.

Se formos pela cor da pele eu ai estou tramada e também poderiam eles não gostar de mim e chamarem-me "pintinhas", "branca às pintas" etc. Numa brincadeira que fiz com eles em que tínhamos que dar festinhas nos braços perguntaram-me o que é que eu tinha na pele? A olharem de maneira desconfiada respondi o que também digo aos meus primos "São caganitas de moscas! Ficam aqui e depois não saem!" A cara deles de espanto e nojo foi de chorar a rir! Para não continuarem a olhar para mim como se fosse um extraterrestre lá lhes tentei explicar melhor o que eram as sardas, continuaram a olhar para mim desconfiados e a mexer na minha pele!

Passado uns segundos já se tinham esquecido que a minha pele era estranha, que para além de ser tão branca como a neve ainda tinha umas pintas castanhas espalhadas por todo o lado! Podiam ter desistido de me agarrar e dar beijinhos eu que tenho uma pele tão estranha e nunca vista por eles, mas não...continuaram e a brincadeira seguiu. Posso concluir aqui que como mais uma vez Madre Teresa de Calcutá dizia "Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las." e é tão bom amar que quantos mais amarmos mais somos amados!


Eu ainda sinto AQUELE ABRAÇO! Eu ainda sinto aquele abraço como se me corresse nas veias e aquele abraço está-me a encher de ideias para o Ajudar Uma Família ser melhor, mais completo e chegar ao coração das famílias de tantas e diversas maneiras! Aquele abraço encheu-me de força e optimismo e está a gerar em mim uma vontade enorme de conseguir, como ele, dar um abraço tão bonito que toque assim alguém também!

Convido-os a todos a virem, a participarem, a experimentarem ser tocados no coração desta maneira! Vale mesmo a pena acreditem! Obrigado a todos os que têm ajudado e continuam a dar-nos mimos! Obrigado por não só Ajudarem Uma Família como me proporcionarem momentos como este e me ajudarem a ser uma pessoa melhor! OBRIGADO do fundo do coração!